Estréia do Rábula

AutorPedro Paulo Filho
Ocupação do AutorFormado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, foi o 1º presidente da 84ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil
Páginas172-175

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Contou seu filho, Evaristo de Moraes Filho, que seu pai, dividindo-se entre o jornalismo e o ensino particular, passou a praticar, como rábula, no escritório dos doutores Silva Nunes, pai e filho, e Ferreira do Faro, "três monarquistas intransigentes".

Em 1894, sua estréia se dá quando, já com escritório próprio, fora convidado a defender um soldado da Brigada Policial, pelo seu antigo colega do Colégio São Bento, Milcíades Mário Sá Freire.

Este advogado o convidara a defender gratuitamente o exsoldado João Peña Garcia, acusado de homicídio.

Em julgamento anterior, já havia sido condenado a 15 anos de prisão, mas o Tribunal, reformando a decisão, o mandara a novo Júri.

Sá Freire o convidara a ajudar na defesa daquele difícil processo e, aceitando, o rábula começou a assistir vários julgamentos no Tribunal do Júri, onde atuavam o professor Cândido Mendes, Monteiro Lopes e "João Benevides, velho rábula, bom argumentador, embora cheio de cacoetes, sempre armado de um volume seboso de Mittermayer, o mestre, no dizer talvez verdadeiro dele..."1O acusador público era Lima Drumond, o promotor que não tolerava nenhuma absolvição.

Chegado o dia do julgamento, Evaristo dirigiu-se para o recinto do Tribunal, sem conhecer o réu e o processo.

Ficou apavorado quando soube que Sá Freire não poderia chegar a tempo para produzir a defesa, embora o combinado fora que Evaristo falaria apenas na tréplica: "Tu fazes um daqueles teus discursos bonitos, nada mais!" - dissera-lhe Sá Freire.

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Evaristo entrou em pânico quando percebeu que o advogado não havia chegado ao iniciar a sessão de julgamento.

Quando foi dada a palavra à Defesa, Evaristo estremeceu: "Mentiria se não dissesse que estava suando todo o meu medo; que, a cada instante, esperava ver surgir Sá Freire; que esticava os olhares ansiosos para a porta, por onde ele tinha de me vir salvar. Mas, ... não veio."

Antes havia falado o promotor Lima Drumond, com sua voz fortíssima e sonora, gestos largos e entusiásticos, argumentação impiedosa.

Evaristo de Moraes percebeu que Lima Drumond não iria à tréplica, imaginando-a desnecessária.

Deveria ter pensado: "Afinal, na defesa está um rábula..." Embora saudasse o promotor no exórdio, não foi correspondido por ele.

Quem era eu, rábula principalmente, para merecer a atenção de uma referência, mesmo banal e de simples etiqueta?

Eis que em meio a defesa, Evaristo que pugnava pela absolvição, fundada na legítima defesa, chegou ao recinto Sá...

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