BRICS Plus': elemento de coesão ou ameaça à unidade?

AutorLetícia de Souza Gonçalves
Páginas14-15
14 GLOBAL LAW IN CONTEXT
CÁTEDRA JEAN MONNET DA FGV DIREITO RIO - [VOLUME 2]
A.
ANÁLISES DE ATUALIDADES INTERNACIONAIS
“BRICS PLUS”: ELEMENTO DE COESÃO OU AMEAÇA À
UNIDADE?
Fortalecer o BRICS
no cenário internacional. De
forma simples e clara, essa
é a principal motivação por
trás da proposta de reforçar
o grupo de países emergentes
a partir de sua ampliação em
número de membros. A primeira
consideração de adesão de novos
membros ao BRICS surgiu em
fevereiro deste ano, por meio de
uma proposta feita pela Rússia
ao Brasil no encontro entre
Sargey Lavrov, ministro russo
das Relações Exteriores e o então
chanceler brasileiro José Serra,
no contexto da reunião do G20.
A proposta vem sendo apelidada
de “BRICS Plus” e seria um
alargamento da aliança entre
países emergentes, dando forma
a um “BRICS ampliado” que não
aumentaria o número de sócios
automaticamente, mas convidaria
países emergentes a participar
de forma ativa nos encontros do
grupo.
Apesar de nenhum país ter
sido oficialmente mencionado
por qualquer um dos membros
como possível país entrante,
especialistas em assuntos
internacionais já apontam como
possíveis nomes Argentina,
Indonésia e Malásia, pelo tamanho
e tendência de crescimento de
suas economias, além das relações
políticas relativamente estáveis. O
Ministro das Relações Exteriores
da China, Wang Yi declarou que
pretende explorar modalidades
do BRICS Plus, dialogando mais
extensamente com países em
desenvolvimento, de forma a
ampliar o círculo de países amigos
com vistas a formar a plataforma
de maior impacto para cooperação
sul-sul.
A proposta por parte da Rússia
e as afirmações por parte da
China demonstram um claro
posicionamento estratégico em
contraponto aos Estados Unidos
e à Europa. Essa nova disposição
estratégica é estimulada pela
ansiedade de um cenário
internacional marcado pela
imprevisibilidade, produto da
soma de dois fatores: primeiro,
a nova retórica estadunidense
Por Letícia de Souza Gonçalves*
1. ARTIGOS
imposta por Donald Trump
com seu “America First que
que resultou na saída do Acordo
Transpacíco de Cooperação
Econômica e na expectativa de
que seus aliados arquem com sua
própria segurança; e segundo, a
instabilidade política na Europa e a
falta de conança nas instituições
europeias que teve como sinal
mais nítido o Brexit. Esses fatores
têm empurrado Rússia e China
para medidas de fortalecimento
do BRICS.
Mas quais são as possíveis
implicações internas e externas
ao bloco a partir da adesão de
novos integrantes? A associação
de novos membros certamente
representará maior força política e
econômica perante a comunidade
internacional. Aliar Argentina, por
exemplo, catalisaria a integração
sul-americana. A entrada da
Indonésia signicaria a adesão
do quarto maior país do mundo
em população. O caso da Malásia
signicaria a entrada de uma das
economias que mais crescem no
Sudeste asiático.
Por outro lado, já começam
especulações, principalmente
por parte de estudiosos indianos
de que a ampliação seria uma
forma encontrada pela China para
expandir inuência ao convidar
países aliados. Argumenta-se que
países pró-Pequim, tais como
Paquistão, Sri Lanka e México,
seriam os principais nomes
cogitados pelo governo chinês.
Nesse cenário, a Índia seria a maior
prejudicada dentro do grupo por
conta de sua rivalidade histórica
com o Estado paquistanês.
Consequentemente, haveria uma
resistência por parte da Índia em
aceitar novos membros.
Em relação ao Brasil, ainda é difícil
compreender o impacto para o
país, mas pode haver um possível
desconforto caso o grupo adote
uma retórica mais agressiva aos
Estados Unidos, tendo em vista
o esforço do país em manter uma
relação amistosa e neutra com a
“terra do tio Sam” por interesses
comerciais.
Ainda, há a preocupação com
a perda de foco e coerência em
assuntos de desenvolvimento.
A estratégia de novas adesões
para aumentar o peso político do
agrupamento parece válida, já
que o número de cinco membros
é considerado pequeno. Dada
a instabilidade do cenário
atual, a tarefa de assegurar a
estabilidade internacional nas
periferias médias tende a car sob
responsabilidade das economias
emergentes. Ainda assim ca a
dúvida sobre se a entrada de novos
membros servirá ao grupo como
um todo ou se será ferramenta
política de membros individuais.
Tem-se, pois, que a escolha
errada pode resultar na quebra de
conança entre os membros e de
coesão do agrupamento.
* Graduada em Relações
Internacionais pela PUC-Rio.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT