Criminalidade organizada

AutorCibele Benevides Guedes Da Fonseca
Páginas1-54
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CRIMINALIDADE ORGANIZADA
1.1 CONCEITO
Em larga ou curta medida todos possuem uma ideia do que seria
uma organização criminosa: seja algo inspirado nos lmes sobre máa,
como a trilogia do “Poderoso Chefão” (e Godfather) de Francis Ford
Coppola, seja algo absorvido dos noticiários relacionados aos atentados
terroristas mundo afora. Há um certo consenso de que, ao se falar em
crime organizado, vem à mente um grupo de pessoas, um comando, um
pacto de silêncio entre os integrantes, um controle territorial e o uso do
medo, da ameaça e da violência.
São inúmeras as organizações registradas pelos investigadores no
mundo, sendo, de fato, as mais famosas as Máas Siciliana e Americana
(Cosa Nostra). A Itália é rica em associações do tipo maoso, mormente
no sul, como a ‘Ndrangheta, da Calábria, e a Camorra, de Nápoles11.
Há, ainda, a Sacra Corona Unita, na Puglia, e a Mala Del Brenta, em
Veneza12. Mas o crime organizado, por óbvio, não se restringe ao
território italiano.
11 SOUTHWEL L, David. A histór ia do crime organiz ado. Tradução: Ciro Mioranz a.
São Paulo: Escal a, 2013. p. 14/18.
12
SOUTHWELL , David. Op. cit., p. 19/24.
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Cibele Benevides Guedes da Fonseca
No Japão existe a Yakuza13, com estimados 150 (cento e cinquenta)
mil membros em 2.500 (duas mil e quinhentas) gangues criminosas que
a tornam “a maior rede mundial do crime organizado, se os números
do Instituto Nacional Japonês de Ciências Policiais forem corretos”.14
Congura-se como organização criminosa antiga, com rígidos rituais
e regras ancestrais, principalmente as famosas tatuagens, que chegam
a cobrir todo o corpo. Já na China há as Tríades, conhecidas como “a
sociedade imortal” uma vez que os governos não conseguem desbaratá-las:
Verdadeiramente transnacionais, com ramos orescentes em todos os
continentes (…), dominam a atividade criminosa nas comunidades
chinesas em todo o mundo. (…) estão rmemente na vanguarda dos
crimes organizados, como tráco de drogas e de pessoas.15
A Maya Russ a (Organizatsiya) mantém rituais dos vory16, com um
juramento de lealdade, uma tatuagem e um novo nome impostos aos
que nela entram. É atribuída a tal organização a prática de crimes de
tráco de pessoas, entorpecentes, contrabando, corrupção e homicídios,
sendo considerada pioneira em sua adaptabilidade a novos crimes:
A Organizatsiya ganhou reputação interna não somente pela brutalidade,
mas também pelo pioneirismo. Dos crimes cibernéticos e das drogas
sintéticas a novos golpes de lavagem de dinheiro, os criminosos russos
estão na dianteira. Mostraram que não têm limites em sua ousadia –
roubando mísseis Scud e até mesmo tentando obter material nuclear para
vender aos terroristas.17
13 O termo “Yakuza” provém da pior mão no jogo de car tas japonês oicho-k abu, correspondente
às carta s dos números 8, 9 e 3 (ya=8, ku=9, za=3), signi cando má sorte de quem se
deparar com seu s membros, podendo ainda sig nicar que as sim tenham sido cha mados
inicialmente como for ma de insulto, algo como “mãos inúteis”, conforme SOUTH WELL,
David. Op. cit., p. 78.
14
SOUTHWELL , David. Op. cit., p. 78.
15
SOUTHWELL , David. Op. cit., p. 99.
16 Vory-v-zakone” signica “lad rões com um código de honr a”, e eram uma Fraternidade
Nacional espal hada por todas as prisões da União S oviética.
17 SOUTHWEL L, David. Op. cit., p. 142.
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CRIMINALIDADE ORGANIZADA
Muitos grupos de crime organizado surgiram em razão de
resistência política (legítima ou não): a Maya Chechena, as gangues
de Glasgow, grupos ligados ao IRA (Exército Republicano Irlandês)
e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (as FARCs), por
exemplo18. O tema remete, assim, à questão dos grupos terroristas,
cujos atos certamente consistem no tipo de crime praticado por or-
ganizações criminosas que mais atemorizam os Estados nacionais
e os mobilizam em sua prevenção. Aqui, importante ressaltar que
a diferença entre os dois grupos (organização criminosa e organi-
zação terrorista) está, basicamente, no intuito de lucro das organi-
zações criminosas, enquanto terroristas buscam poder político19.
Nesse sentido, Wálter Fanganiello Maierovitch:
Ao contrário das organizações criminais terroristas, também especiais, a
ideologia maosa resume-se ao lucro. (…) no terrorismo existe uma meta
direta, imediata, e outra indireta, mediata. Assim, (...) ‘o alvo direto da
violência terrorista não é o alvo principal.20
Muitas vezes, porém, atentados terroristas são praticados por
organizações criminosas clássicas ou maosas que, a despeito de visarem
precipuamente ao lucro, usam a prática para repreender ou enviar
mensagens simbólicas contra o Estado. Durante o combate à Máa
Siciliana, na década de oitenta, a organização criminosa Cosa Nostra
18 SOUTHWEL L, David. Op. cit., p. 170/174, 128/129.
19 BALTAZAR JUNIOR, José Pau lo. Crime Organizado e Proibição de I nsuciência. Porto
Alegre: Livr aria do Advogado Editora, 2010. p. 83.
20 MAIEROVITCH, Wálter Fanga niello. Prefácio do liv ro de DINO, Alessand ra;
MAIEROVITCH, Wálter Fanga niello (organizadores). Tradução: Doris Cavallar i; Letizia
Zini. Nova s tendências da criminalidade tr ansnacional maosa. São Paulo: Ed . Unesp,
2010. p. 14/15. Para Wellington Lu ís de Sousa Bonm, “os t rês elementos que devem ser
considerados essencia is a uma denição de terrorismo” são: “a v iolência, o aspecto teatral
e o propósito de atemorizar a popu lação.” BONFIM, Wellington Luís de S ouza. Elementos
para a deniçã o do crime de terrorismo e a caracte rização do terrorismo contemporâne o.
HABIB, Gabriel (Coordena dor). Lei Antiterrorismo. Lei 13.260/2 016. Salvador: Ed.
Juspodium, 2017. p. 363.
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