A Forma Mercadoria e a Forma Jurídica no Direito do Trabalho em Marx, Pachukanis e Gaspar Andrade
Autor | Rafael Borges Bias |
Páginas | 152-168 |
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AFMFJ
DTMP
GA(1)
Rafael Borges Bias(2)
NoprimeirocapítulodOCapitalAmercadoriaMarxexplicacomoépossívelatrocaentreduas
coisasqualitativamentediferentescomosefossemquantitativamenteiguaisasmercadoriasEssaparte
dolivroéconsideradaademaisdifícilcompreensãoporissoafamosaliçãodeAlthusserparaquesua
leiturasejafeitaapósoestudodetodaa obrainiciandosepela seçãoIIAtransformaçãododinheiro
emCapitalEmquepeseoevidentedesaovaleapenarealizaresseesforçoinicialpoisosconceitosde
mercadoriaefetichismoocupamlugarcentralnateoriamarxista(3), sendo indispensáveis e impostergáveis
paraacorretainterpretaçãodacríticadeMarxaomodocapitalistadeproduçãoeorganizaçãosocial
NadaobstanteopresentetrabalhoseesforçaparafacilitaroentendimentodaobradeMarxadian-
tandoaolegentequecasoaexplanaçãonãosejaapreendidanaprimeiraleituraissoénormaledecerta
formaprevisívelRepetindoaoconteúdoseelucidaporquea explicaçãotal qualtoda aexposição e
raciocíniodeMarxvaidoparticularaogeraldosimplesaocomplexosendomaisfácilobteranoçãodos
conceitosdesenvolvidosporeleaonaldotextoÉqueparaMarxaumateoriaéumsistemarigoro-
sodeconceitoscientícoscujasbasesseestruturamnaformadeumsistemaDessemodoainvestigação
temdeseapropriardamatériaemseusdetalhesanalisarsuasdiferentesformasdedesenvolvimentoe
rastrearsuateiainternaDepoisde taltrabalho éque sepode expore compreenderadequadamente o
movimento real do objeto analisado.
ParaajudarnoentendimentodasideiasdoautoralemãoserãoexpostaspassagensdosManuscritos
econômicoslosócosde também conhecidoscomoManuscritos de Parispoisnessa obra foi
traçadaaprimeiracríticadeleàeconômicapolíticademodoquepartedosconceitosexpostosnOCapital
alijáhaviamsidoexploradosfacilitandooentendimentodesuaobraprincipalTambémporqueopre-
senteestudosevoltaàcompreensãodecomoosujeitopodesealçaràqualidadedepessoaemancipada
assimosregistros de Marx sobreotrabalhoa propriedade privada aalienaçãoo estranhamento o
FoiindispensávelparaproduçãodestetextoaleituradetrechosdoscadernospreparatóriosdeMarxparaasegundaedição
dO CapitaldetraduzidospelaprimeiravezparaoportuguêsemartigodeRômuloLimaeMichaelHeinrich
AdvogadoMestreedoutorandoemDireitopelaUFPE
NestetextoaexpressãomarxistaindicaarelaçãodiretadealgocomopróprioMarxjáotermomarxianoaqualicaalgo
comosendoinspiradonaobradeMarxPorexemploteoriamarxistaéateoriadopróprioMarxteoriamarxianaéa inspirada
emMarx
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desestranhamentoea emancipação presentes nesses manuscritos sejam essenciais àcompreensãoda
antropologiamarxista
Aomesmotempoqueseassumeatarefadeexporoconceitomarxistademercadoriaaonaldeste
tópicosediscutecomoesseconceitoguardaemsiumacríticaàmodernidadeeàtentativadeconstrução
dequalquerracionalidadeneutranocampodasciênciassociaisposteriormenteaproveitadanaanálise
queadoutrinaclássicafazsobreoDireitodoTrabalhoOutrossimtalexplanaçãoinauguralservedecom-
bustívelparatodoodesenvolvimentodapesquisaquevisaantesdetudoinamarposiçõeshegemônicas
acercadoDireitoedepartedosestudosmarxianos
Nadenição deMarxa amercadoriaé umobjetoexterno resultadodotrabalho humano
destinadoàtrocaequesatisfaznecessidadessiológicasoupsicológicassejadiretamenteparasubsis-
tênciasejaindiretamentecomomeiodeproduçãoTodamercadoriaéprodutodeumtrabalhoconcreto
poistodoelementoderiquezamaterialnãofornecidopela naturezasurgede umaatividadeprodutiva
especialsendootrabalhoumacondiçãodeexistênciadohomemindependentedetodasasformasso-
ciaiseternanecessidadenaturalde mediaçãodometabolismoentrehomemenatureza eportantoda
vidahumanaMARXapPormaioresquesejamasdiferençasentremercadoriasotrabalho
lheséumapropriedadecomum
Autilidadedamercadoriaéconstituídapeloseuvalor de usomedidoemqualidadeequantidade
Essevalordeusoéoconteúdomaterialdariquezaqualquerquesejaaformasocialdestasendoosuporte
material do valor de trocaqueéquantitativamenteaproporçãopelaqualosvaloresdeusodeumamer-
cadoriasãotrocadosporvaloresdeusodeoutramercadoriaobservadasasinuênciasdasdeterminações
históricaseterritoriaisemqueatrocaérealizada
Dessaformaoconceitomarxistaexcluidanoçãodemercadoriaaquiloqueéútilmasnãotemvalor
pornãoserprodutodotrabalhohumanocomooardaatmosferaouamadeirabrutapoisoelemento
matériaéimpotenteparaacriaçãodariquezasemooutroelementotrabalhoMARXpTambém
eliminadesseconceitooquenãopossuivalordetrocaemboratenhavalordeusoporserútileproduto
dotrabalhohumanocomooobjetocriadoparasatisfazerapróprianecessidade
Apartirdetaldeniçãoseconcluiqueháduasdimensõesdamercadorianomundoamaterialo
corpomercadoriaeasocialocorpovalorquesóseapresentanarealizaçãodatrocapoistemnarelação
socialentreasmercadoriasasuaformaobjetivademanifestação(4).
Ademaisdoissãoosrequisitosparaquehajaumarelaçãodetrocaentrecoisasdevehavermais
deumelementopoisumacoisa nãopodesertrocadaporsioualgoidênticoasi eos elementosda
trocadevempossuircorrespondênciarecíprocaSobreoprimeirorequisitoelepodeserexplicadoapartir
doseguinteexemplodadoporMarxatodomundosabequeumapedrapossuipesodoquesediz
queapedraépesadaEmboraessaarmaçãonãomencioneaexistênciadeoutrocorpoearelaçãoda
pedracomeletalconstataçãoestáincluídanesseenunciadopoisacaracterísticadopesodapedranão
podeserobservadapelapedraemsiéumapropriedadecorporalquesósemanifestanarelaçãodelacom
outroscorposOmesmoacontececomovalordamercadoriaquenãoéumapropriedadeautorreferente
elesóéperceptívelnarelaçãodeumamercadoriacomoutradistinta
Arespeitodosegundorequisitoéotrabalhoqueconsubstanciaovalornamercadoriaequepermite
acorrespondênciaentreelascomovaloresAtuandocomoelementoqueunicasocialmentemercadorias
distintaseletornapossívelatrocaÉacaracterísticadecontertrabalhoemsiqueviabilizaatrocadeuma
facaporum marteloporexemploBilateralmenteo valoréaformatrabalhodasmercadoriaselenão
énadaalémdarelaçãodamercadoriacomotrabalhoenquantosuasubstânciainerenteQuer dizera
mercadoriaenquantoprodutodotrabalhoévaloresóévalorporqueparasuaproduçãofoiempregado
trabalho
PoressadeniçãodevalorMarxafastaumaconcepçãodovalorenquantoconceitomeramenteidealretirandoasuaanálise
doâmbitodafenomenologiaidealistausualmenteatribuídaaHegel
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