Estará o Futuro da Social-Democracia nas Mãos das Mulheres?
Autor | Mauricio Godinho Delgado, Lorena Vasconcelos Porto |
Páginas | 293-312 |
CAPÍTULO 11
EFSD
MM(1)
CLK(2)
Sumário: 1. Introdução. 2. O estado do bem-estar produtivista:
sustentabilidade econômica. 3. Estado do bem-estar centrado nas
mulheres: sustentabilidade política. 4. Preferências das mulheres e
resultados: estado do bem-estar ou cultura? 5. Discussão. 6. Refe-
rênciasbibliográcas
1. Introdução
Uma nova constelação de necessidades sociais tem forçado a questão
dos cuidados em direção ao centro da agenda do estado do bem-estar. As
mulheres, as tradicionais provedoras de cuidados nas famílias, maciçamente
entrando na força de trabalho, valores e normas de gênero em contestação se-
(1) UmaversãoanteriordesteensaiofoiapresentadanopainelfechadoComparingredesign
ofwelfareregimes tounderstandadaptation tosocialinvestment perspectiveregional
trendsanddomesticstoriesoftheInternationalPoliticalEconomyResearchCommiee, 2014
InternationalPoliticalScienceAssociationCongressjulyMontrealOpresenteartigo
foi publicado anteriormente na Revista Direito das Relações Sociais e Trabalhistas, v. 3, n. 1,
Brasília, Centro Universitário do Distrito Federal — UDF, 2017. p. 102-124.
(2) Professora titular do Instituto de Economia da UFRJ, pesquisadora 1 do CNPq, diretora
do CEDE (Centro de Estudos sobre Desigualdade e Desenvolvimento), pós-doutora com
louvor em Ciências Políticas e Sociais pelo European University Institute (1998), doutora
em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro — IUPERJ
(1997), mestre em Economia pela UFRJ (1989), graduada em Economia pela Universidade
FederalFluminensepesquisadoravisitantenaColumbia UniversitynoMITna
Universidade de Illinois e na Universidade Pompeu Fabra em Barcelona e professora
visitante na Universidade de Siena na Itália e no INAG em Cabo Verde.
6200.2 Welfare State Os Grandes Desafios.indd 293 30/05/2019 16:31:00
294
não em franca transformação, arranjos familiares monoparentais proliferando
e populações envelhecendo rapidamente com aumento expressivo do número
deidososdependentestodosessesfenômenosseassociamaoquealguns
observadorestêmchamadodecrisedoscuidadosEapesardeovelhoes-
tado do bem-estar ter sido, muito provavelmente, o principal disparador de
muitas dessas mudanças, ele não parece adequado para respondê-las. De fato,
reações de proteção social tradicionais parecem relativamente inócuas frente
aosnovosdesaoscolocadospelacrisedoscuidados
Em muitos casos, a adaptação tem sido lenta e ainda tentativa, e, em
qualquer caso, mediada pelos culpados usuais da variação entre países, vale
dizerodesenhodoestadodebemestarfatoresculturaisesocioeconômicos
egenericamenteinstituições econômicas sociais e políticasContudonas
últimas duas décadas, uma nova maneira de pensar o estado de bem-estar
emergiu dos esforços de fazer sentido dos novos problemas, esclarecendo
conexões causais e imaginando intervenções que possam melhor responder
àsnecessidadesidenticadasMORELPALIERPALMEPorexemplo
a ênfase tradicional em manutenção da renda foi substituída ou complemen-
tadaporumanovaênfaseemprovisãodeserviçosreetindooquetemsido
denominadodefasedeativaçãodoestadodobemestarKERSTENETZKY
BONOLIEssanovaênfaseporsuavezparecereetiracrençade
que o compromisso do novo estado do bem-estar, em uma era de incertezas
selvagens, deveria ser o incremento da produtividade agregada mais do que
a garantia direta de bem-estar.
Contudo, o que é algumas vezes apresentado como um conjunto coerente
deideiasdefatoescondevariaçãoimportantedeveríamosestarnosreferindo
mais propriamente a diferentes modos de engajamento nessa nova maneira de
pensaraprovisãosocialComoindicadoporMorelPalierandPalme
épossívelidenticaratualmentepelomenostrêsvariantesdaassimchamada
perspectivadoinvestimentosocialumavarianteneoliberaldotipofazero
trabalhovalerapenamakework paywelfareumasegundadotipofazer
otrabalhovalera pena mais provisão focalizada de serviçosthird way
welfaree ainda uma terceira de raiz socialdemocrata do tipo provisão
universal de serviço cumseguridadesocialorientadaparaativação(3). Todas
as variantes compartilham certas premissas com a chamada economia do lado
da oferta (supplysideeconomics), com sua ênfase nas forças produtivas, mas a
vertente social-democrata é eclética, pois inclui princípios típicos da economia
dolado dademanda reconheceaimportânciadetransferênciasde rendae
(3) Solga, 2014,chamaestaversãodedoubleliabilitywelfarestate. Uma quarta variante poderia
aindaseridenticadacomoaadaptaçãobismarckianadanovaorientaçãoparaomercado
de trabalho, mas esta seria mais uma prática do que propriamente uma doutrina.
C11
6200.2 Welfare State Os Grandes Desafios.indd 294 30/05/2019 16:31:00
Para continuar a ler
PEÇA SUA AVALIAÇÃO