História Mundial
Autor | Filipe Figueiredo e Leonardo Gill Correia Santos |
Páginas | 273-338 |
1. ESTRUTURAS E IDEIAS ECONÔMICAS1
1.1. Da Revolução Industrial ao capitalismo
organizado: séculos XVIII a XX
(Diplomacia – 2018 – CESPE) Em contraste com sistemas eco-
nômicos tradicionais, o capitalismo institucionaliza uma
organização da atividade econômica na qual os atores são
forçados a se orientar na direção de um futuro aberto e
imprevisível. Tal futuro representa duas coisas: promessas
de possibilidades ilimitadas para os atores, bem como
uma ameaça permanente aos seus status econômicos.
Jens Beckert. Reimaginando a dinâmica capitalista. In: Tempo
Social. Revista de Sociologia da USP, v. 29, n.º 1, p. 166.
Considerando o texto precedente como referência inicial,
julgue (C ou E) os itens a seguir, a respeito da economia
ocidental no século XX.
(1) Com o New Deal, as relações entre os sindicatos e
o patronado nos Estados Unidos da América (EUA)
passaram a ser reguladas pelo National Labor Rela-
tions Board, agência criada por Franklin D. Roosevelt.
(2) A Convenção de Bretton Woods, que pretendeu evitar
nova crise pós-guerra, como a ocorrida nos anos 30 do
século XX, teve como principal proponente Maynard
Keynes, célebre por suas contribuições na solução da
crise norte-americana.
(3) A articulação entre ciência e indústria foi uma das
marcas dos anos dourados do capitalismo, no pós-
-Segunda Guerra, quando os investimentos em
pesquisa tornaram-se parte signicativa dos custos
de produção e aumentaram o distanciamento entre
países ricos e países pobres.
(4) A adoção de políticas neoliberais por países como
a Grã-Bretanha, desde a década de 70 do século
passado, foi um dos desdobramentos da crise do
fordismo. Paralelamente à diminuição do Estado, os
trabalhadores viram sua capacidade de negociação
reduzida devido à exibilização do trabalho e da
produção.
1 - Correto. A proposta da National Labor Relations Board era a
de ser uma agência de mediação e garantir o poder de barganha
coletiva estabelecido com o NIRA. Lembremos que o termo New Deal
também se aplica à coligação eleitoral de Roosevelt, que dava inédita
representatividade partidária aos sindicatos. Item correto.
2- Errado. O item foi carregado de ambiguidade, já que coloca Keynes
como “principal proponente” da Conferência de Bretton Woods. Que
ele foi um dos proponentes e atores da conferência, sem dúvida,
entretanto, várias de suas ideias foram descartadas em prol dos projetos
de Harry White, que é considerado o “vencedor”, por assim dizer, da
* Filipe Figueiredo (comentou 2013, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e
20) e Leonardo Gill Correia Santos (comentou 2010, 11 e 12).
conferência. Além disso, Harry White também foi um dos proponentes
da conferência. Item errado.
3- Correto. O item está correto e faz quase uma transcrição literal de
um trecho da obra Era dos Extremos, de Eric Hobsbawm.
4- Correto. O item faz um apropriado resumo sobre Reino Unido ao nal
dos anos 1970, com a ascensão de Margaret Thatcher.
Gabarito 1C, 2E, 3C, 4C
(Diplomacia – 2018 – CESPE) A Revolução Industrial teve início
no século XVIII e transformou econômica e socialmente
boa parte do Ocidente ao longo de suas fases. Tendo essa
informação como referência inicial, julgue (C ou E) os
itens a seguir, que dizem respeito ao referido período e
aos seus desdobramentos.
(1) O emprego e uso da noção e conceito de mercado,
essencial ao capitalismo industrial, foi herdado do
mercantilismo. A partir da necessidade de expansão
e garantia de mercados, houve a formação de Estados
territoriais e de impérios coloniais: o Imperialismo
resultou da Revolução Industrial.
(2) Ao mesmo tempo em que serviu como fator de
aproximação entre países distintos, a Revolução
Industrial ampliou as desigualdades econômicas,
sociais e políticas.
(3) Os cercamentos ingleses aconteceram com o objetivo
de incentivar o excesso de mão de obra necessária
às fábricas na Inglaterra. Esse processo foi pacíco e
contou com o apoio dos pequenos e médios produ-
tores, pois estes adotaram a lógica comercial vigente
e se integraram à cadeia de consumo.
(4) Sob o inuxo da mudança cultural provocada pelo
então incipiente capitalismo, o uso econômico do
tempo e o processo de internalização da disciplina
passaram a fazer parte da retórica moral de escolas e
congregações religiosas na Inglaterra.
1- Correto. O item faz um apropriado resumo de dois séculos de
mudanças econômicas.
2- Correto. Outro item que explorou a ambiguidade, já que o conceito
de “dupla revolução” é de como a Revolução Industrial andou junto
com o m do Absolutismo, desaando as desigualdades políticas.
Além disso, diversos impactos sociais diminuíram essas desigualdades
sociais, como questões de mortalidade e de disponibilidade alimentar, a
tão citada superação da “armadilha malthusiana”. Ainda assim, outras
desigualdades foram ampliadas, como a da produção econômica dos
países, o que provavelmente explica o item estar correto.
3- Errado. A política de cercamentos não foi pacíca, nem contou com
apoio de pequenos produtores. Além disso, seria controverso dizer que
o objetivo primeiro dos cercamentos era gerar exército de reserva, isso
sendo mais uma consequência do que intenção. Item errado.
4- Correto. O item faz um apropriado resumo sobre racionalização do
uso do tempo, o item está correto.
Gabarito 1C, 2C, 3E, 4C
04. HistóriA mundiAl
Filipe Figueiredo e Leonardo Gill Correia Santos*
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FILIPE FIGUEIREDO E LEONARDO GILL CORREIA SANTOS
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(Diplomacia – 2015 – CESPE) Iniciada nas últimas décadas do
século XVIII, na Inglaterra, a Revolução Industrial é um
processo que se prolonga no tempo. A partir de meados
do século XIX, ela conheceu novo e extraordinário
impulso, etapa normalmente denida como Segunda
Revolução Industrial. Esse período é assinalado pela
difusão do uso do aço, da eletricidade e do petróleo,
entre outras inovações. Com referência a esse período
da moderna industrialização, julgue (C ou E) os próxi-
mos itens.
(1) O ritmo da industrialização europeia, principalmente
na Alemanha, Inglaterra e Itália, foi prejudicado pelo
encarecimento das novas formas de energia e pela
falta de mão de obra, decorrente da emigração em
massa de europeus para os EUA e para a América
do Sul.
(2) Incrementou-se o comércio internacional, tendo
havido, ainda, expansão econômica da América
Latina, particularmente da economia primária e de
exportação.
(3) A utilização de novos materiais e fontes de energia
ampliou a capacidade de produção e consolidou o
capitalismo como sistema dominante.
(4) O processo industrial expandiu-se para os diferentes
continentes e, simultaneamente, o sistema nanceiro
internacionalizou-se.
1: Errado. A Segunda Revolução industrial inovou sobre a variedade e a
disponibilidade de fontes de energia, com invenções como a hidrelétrica.
Isso fez com que a energia barateasse, ao contrário do armado no item.
Além disso, devido ao excesso de mão de obra, pelas transformações
demográcas do processo de industrialização, que tivemos grandes
movimentos migratórios rumo ao continente americano. Novamente,
o contrário do armado no item.
2: Certo. A América Latina, com a Segunda Revolução Industrial,
aumentou seu papel de fornecedor de matérias-primas e produtos
agrários, assim como o de destino de produtos manufaturados,
fornecidos por países como os EUA e o Reino Unido.
3: Certo. A Segunda Revolução Industrial é marcada por novos
materiais, como o aço, e novas fontes de energia, como a hidrelétrica
e a petrolífera. A consequente expansão da produção e da economia
contribui para a consolidação do sistema capitalista como o sistema
econômico vigente pelo mundo.
4: Errado. O processo industrial de fato se expandiu para os diferentes
continentes, seja com a industrialização de diferentes regiões, como
Japão e EUA, seja com o papel de fornecimento ou consumo, como
o exemplo latino-americano e a partilha do continente africano. Não é
possível, entretanto, falar em internacionalização simultânea do sistema
nanceiro, que continuava centrado em poucas nações, como Reino
Unido e EUA.
Gabarito 1E, 2C, 3C, 4E
(Diplomacia – 2013 – CESPE) Por volta de 1860, uma nova
palavra entrou no vocabulário econômico e político do
mundo: “capitalismo”. O triunfo global do capitalismo
é o tema mais importante da história nas décadas que
sucederam 1848. Foi o triunfo de uma sociedade que
acreditou que o crescimento repousava na competição
da livre iniciativa privada, no sucesso de comprar tudo no
mercado mais barato (inclusive trabalho) e vender no mais
caro. Eric J. Hobsbawm. A Era do Capital (1848-1875).
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 21 (com adaptações).
Tendo o texto acima como referência inicial e conside-
rando o signicado histórico da Revolução Industrial,
julgue (C ou E) os itens a seguir.
(1) A competição citada no texto, razão de ser de
crescimento econômico que não teria m, como
se acreditava à época, circunscreveu-se à iniciativa
privada. A triunfante sociedade burguesa, defensora
intransigente dos princípios liberais, impediu que a
ação dos Estados nacionais interferisse na economia,
o que resultou em clima de paz e de rivalidades
amortecidas, que perdurou até meados do século XX.
(2) Entre os diversos elementos que se conjugam para a
conceituação mais abrangente da Revolução Indus-
trial, destacam-se a substituição das ferramentas pelas
máquinas, da energia humana pela motriz e da forma
doméstica de produção pelo sistema fabril.
(3) No período de tempo mencionado no texto, a partir de
meados do século XIX, a Revolução Industrial deixa de
ser um acontecimento essencialmente inglês e tende a
se disseminar. Nesse processo de universalização da
moderna indústria, assinalada pela expansão imperia-
lista, verica-se a consolidação do capitalismo como
sistema econômico dominante.
(4) Assentada na notável evolução tecnológica que a
caracterizou, a Revolução Industrial alterou radical-
mente o sistema produtivo, ampliando, de maneira
inédita, o volume da produção e os mercados consu-
midores. Essa transformação, contudo, foi insuciente
para determinar novos padrões de pensamento e de
comportamento da sociedade, que ainda permanecia
presa a ideias e valores do passado rural.
1: Errado. A ação dos Estados nacionais foi decisiva e desejada
por diversos setores sociais. A garantia de abertura de mercados,
suprimento de matérias-primas e destinos de investimentos foi
característica do Imperialismo. Por sua vez, tal competição acirrou as
rivalidades e levou ao cenário da Primeira Guerra Mundial.
2: Correto. O item faz um apropriado resumo das transformações
industriais em relação ao sistema artesanal e manual que existia
anteriormente.
3: Correto. A internacionalização e expansão da produção industrial é
um dos principais fatores de compartimentação entre a primeira e a
segunda Revolução Industrial. Com a expansão industrial e imperial, a
lógica capitalista torna-se a regra do sistema internacional.
4: Errado. O item inicia de forma correta, entretanto, erra em sua
conclusão. As revoluções industriais foram essenciais para mudanças
demográficas, ideológicas, de comportamento e pensamento. O
surgimento e expansão de movimentos operários e socialistas é um
exemplo, assim como a racionalização da produção e das relações
sociais, substituindo comportamentos ditados pelos ciclos naturais
da realidade rural.
Gabarito 1E, 2C, 3C, 4E
(Diplomacia – 2012 – CESPE) A respeito da Revolução Industrial
na Europa e de fatos a ela relacionados, julgue (C ou E)
os itens subsequentes.
(1) A disseminação da economia industrial na Europa
Continental foi facilitada pelos grandes uxos de
investimentos internacionais que surgiram dos exce-
dentes de capitais, com o objetivo de boas oportunida-
des de negócios, o que permitiu a injeção de capitais
no sistema nanceiro europeu e de tecnologias no
processo de industrialização.
(2) A expansão da Revolução Industrial na Europa favore-
ceu o surgimento de movimentos políticos e sociais,
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04. HISTÓRIA MUNDIAL
alguns deles relacionados ao rápido processo de
urbanização que se vericou no continente a partir
do século XIX.
(3) A economia industrial no continente europeu foi
dinamizada, entre outros importantes fatores, pela
inexistência, até a década de 60 do século XIX, de
políticas protecionistas de comércio exterior.
(4) O retardo do desenvolvimento da economia industrial
nos países da Europa Continental, comparativamente
ao da Grã-Bretanha, deveu-se à precária cultura
liberal empreendedora e às diculdades econômicas
advindas de conitos armados.
1: Certo. Trata-se de uma descrição adequada do processo de
industrialização da Europa continental. O item trata da expansão do
capitalismo industrial pela Europa, que foi feito com compensado
uxo de investimentos proveniente dos excedentes de capital. No caso
especíco da Inglaterra, o excedente veio da produção agrícola anterior
à industrialização. Apesar de a produção agrícola inglesa ter perdido
espaço na economia britânica após o desenvolvimento do processo
industrial, ela também foi beneciada pela modernização industrial. Para
possibilitar a expansão do processo industrial na Europa continental,
os excedentes de capitais provenientes da industrialização britânica
foram importantes. É correto, desse modo, falar em investimentos
estrangeiros no processo de expansão industrial na Europa. Sem
esses excedentes, não haveria como promover uma modernização nos
transportes, fator importante ao processo de industrialização, do qual
o desenvolvimento das ferrovias é exemplo emblemático. A expansão
ferroviária necessitou de amplos investimentos de capitais e de mão-
de-obra para poder atingir rincões na França e nos territórios alemães. É
o que conrma Demétrio Magnoli, em Relações Internacionais – Teoria
e História, “A dinâmica do capitalismo industrial foi impulsionada pela
produção de mercadorias. No século XIX, especialmente, a Revolução
Industrial alastrou-se da Inglaterra para a Europa continental. As forças
produtivas na Europa projetaram sua inuência sobre o espaço mundial
gerando uma nova divisão internacional do trabalho. [...] No capitalismo
industrial, os investimentos no exterior tornaram-se elemento
estruturante da divisão internacional do trabalho. O pano de fundo desse
novo estágio foi o desenvolvimento dos transportes terrestres, com as
ferrovias, oceânicos, com os navios a vapor, e das comunicações, com
o telégrafo. A onda de investimentos no exterior foi liderada pela Grã-
Bretanha – seguida longinquamente pela França, Alemanha, Holanda
e pelos Estados Unidos – e semeou portos, ferrovias, usinas elétricas,
sistemas de iluminação pública [...]. O investimento no exterior precedia
e preparava o caminho para a exportação de mercadorias industriais.
A renda proporcionada pelos investimentos era, frequentemente,
reaplicada no exterior.” (p.54);
2: Certo. O socialismo é um exemplo de movimento político que tem
sua origem na industrialização. Há duas origens, complementares
uma à outra. A origem prática é oriunda do movimento operário, que
surge com a revolução industrial e as péssimas condições sociais
dos trabalhadores, e que tem como exemplo mais emblemático e
exitoso a formação dos sindicatos na Inglaterra. A outra origem do
socialismo é teórica, iniciada pelo francês Gracchus Babeuf (1760-
1797), condenado à morte por sua participação na Conspiração dos
Iguais (1796), ao pregar a abolição da propriedade privada. Seguiram
os socialistas utópicos, como Saint-Simon (1760-1825) e sua seita,
os saint-simonistas, Charles Fourrier (1772-1837) e Robert Owen
(1771-1858). Finalmente, os socialistas cientícos, como Karl Marx
(1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), zeram uma análise mais
ampla e unicaram as duas origens do movimento, o que lhe deu mais
força. Portanto, não se pode negar a origem desse movimento político
na revolução industrial. O movimento operário critica as consequências
nefastas do processo, como as más condições de trabalho dos
trabalhadores e as fortes desigualdades que o processo gerou. Acerca
do rápido processo de urbanização como catalizador de movimentos
sociais e políticos, pode-se armar que contribui para mudar as relações
sociais entre os indivíduos, ao torná-las mais dinâmicas e mais efetivas:
é mais fácil organizar-se, politico e socialmente, em um meio urbano
do que no meio rural; além disso, a urbanização também amplica a
circulação das ideias. O movimento socialista nasce no meio urbano,
e suas principais ideias são, posteriormente, aplicadas no meio rural.
Vale citar Eric Hobsbawm, em A Era das Revoluções, que arma que
as consequências mais sérias da Revolução Industrial “foram sociais:
a transição da nova economia criou a miséria e o descontentamento, os
ingredientes da revolução social. E, de fato, a revolução social eclodiu
na forma de levantes espontâneos dos trabalhadores da indústria e das
populações pobres das cidades, produzindo as revoluções de 1848
no continente e os amplos movimentos cartistas na Grã-Bretanha.”
(pp.74-75);
3: Errado. Seria um equívoco falar de livre-comércio antes de 1860
na Europa. A expansão industrial pressionava pela abolição do
protecionismo, mas não foi fácil aos empreendedores das fábricas
adquirirem tais medidas. Na Inglaterra, é conhecido o embate entre
os industriais, que preferiam o livre comércio, e os produtores rurais,
que defendiam medidas protecionistas. As Leis do Trigo, as Corn Laws,
são adotadas em 1815 com o m de proteger a produção britânica
de grãos contra a concorrência de produtores agrícolas da Europa
continental. Em contraposição, os industriais britânicos preferiam a
liberalização do comércio. Acreditavam no princípio da reciprocidade,
que previa que os países europeus adotariam o livre-comércio
para os produtos britânicos, o que facilitaria as exportações dos
manufaturados ingleses, notadamente, os têxteis. Liderados, a princípio,
pelo economista clássico David Ricardo (1772-1823), os industriais
britânicos passam a pressionar o governo pela abolição das Leis do
Trigo. As Corn Laws serão abolidas, apenas, em 1846, ano em que a
Inglaterra adota o livre-comércio. Inicia-se, com a iniciativa britânica,
um período de liberalização generalizada, que durará mais ou menos
um quarto de século, de 1850 a 1875. De acordo com Hobsbawm, em
A Era do Capital, “Abertamente, apenas a Inglaterra (depois de 1846)
havia abandonado o protecionismo de forma total, mantendo taxas
alfandegárias – pelo menos teoricamente – apenas por razões scais.
Não obstante, excetuada a eliminação ou redução de restrições etc. nas
vias navegáveis internacionais como o Danúbio (1857) e o Sound entre
a Dinamarca e a Suécia, além da simplicação do sistema monetário
internacional, pela criação de grandes zonas monetárias [...], uma
série de “tratados de livre-comércio” derrubou substancialmente as
barreiras de tarifas entre as nações industriais líderes na década de
1860.” (p.70). A tendência ao livre-comércio do período será afetada
pela Grande Depressão (1873-1896) e pela corrida imperialista, o que
motivará um retorno ao protecionismo na década de 1870;
4: Certo. De fato, o conservadorismo, por um lado, e a Revolução
Francesa, seguida das guerras napoleônicas, por outro, geraram
diculdades para uma expansão rápida e ecaz da Revolução Industrial.
Na Europa continental, diferentemente da Grã-Bretanha, o modelo
absolutista, apesar da Revolução Francesa ter abalado suas bases,
reinstalou-se após o Congresso de Viena. Esse modelo caracterizava-se
por uma maior intervenção do Estado, nesse caso, do monarca, na
economia, portanto, na circulação de capitais, o que diculta o uxo de
investimentos. As guerras também contribuem para causar entraves à
circulação de capitais necessária à industrialização, por criar barreiras
físicas entre os Estados: é de imaginar-se a precária circulação de
mercadorias entre a França e a Prússia, a Áustria e a Rússia, em 1815,
principalmente pela crise gerada pelas guerras. Referente ao modo
como as guerras afetam a expansão da industrialização, Hobsbawm,
em A Era das Revoluções, é enfático: “Fora da Grã-Bretanha, o período
da Revolução Francesa e de outras guerras trouxe relativamente pouco
avanço imediato, exceto nos Estados Unidos [...]. As bases de uma boa
parte da indústria posterior, especialmente da indústria de equipamento
pesado, foram lançadas na Europa napoleônica, mas muito pouco
sobreviveu ao m das guerras, que trouxe a crise para toda a parte. No
todo, o período que vai de 1815 a 1830 foi um período de reveses ou,
na melhor das hipóteses, de recuperação lenta.” (pp.275-276). Sobre
EBOOK COMO PASSAR DIPLOMACIA 5ED.indb 275EBOOK COMO PASSAR DIPLOMACIA 5ED.indb 275 05/04/2022 15:58:5205/04/2022 15:58:52
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