A Infosfera e a tríade do novo: pensar, agir e julgar
| Autor | Carla Cristina de Paula Gomes |
| Páginas | 84-101 |
84 •: Revolução Informacional - Capítulo 5
A Infosfera e a tríade do novo: pensar, agir e julgar
Carla Cristina de Paula Gomes
“Cérebro eletrônico: a m áquina computadora poupa gente ... Quando
penso que chegue i a falar no mistério, que cont inua mistério, do cérebro
eletrônico, só posso di zer como a gente dizia lá em Rec ife: Virgem Maria!...”
Clarice Lispector
Resumo
O artigo busca, a partir de estudos da obra de Luciano Flori-
di, evidenciar o modo como a infosfera vem remodelando a realida-
de humana, por meio de inovações tecnológicas que inuenciam as
suas relações, das quais se destacam novos modos de pensar, agir e
julgar. O ser humano aora como ser ou agente informacional – in-
forg – e passa a pensar o que pode ser e como deve agir ou interagir
com as tecnologias. O homem assume um novo papel, singular, em
diferentes ordens diante da tecnologia: apresenta-se, inicialmente,
como seu mero usuário; em um segundo nível, é provocado ou inci-
tado pela tecnologia em suas ações; e, numa terceira ordem, torna-
-se mero beneciário ou destinatário das relações provocadas pelas
ICTs, Information and Communications Technology (tecnologias de
informação e comunicação). O uso da IA (Inteligência Articial),
alcança o setor jurídico, e no âmbito dos tribunais, passa a ser utili-
zado como tecnologia de predições para a identicação de padrões
e alcance de soluções mais ecientes para determinados problemas
algoritimizados. Nesse novo contexto, e sem fechar os olhos à reali-
dade informacional, a importância de se bem viver a infosfera, com
suas benesses, sem desperdiçá-la e sem perder de vista o sentido do
sentir e do bem-viver.
Introdução
Para um novo mundo, um novo pensar, um novo agir e um
novo julgar.
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À primeira vista, e de modo singelo, não nos apresentamos
avessos às mudanças ou inovações quando elas decorrem da
tecnologia, pois tendemos a aceitá-las ao supor o alcance de
melhorias e os benefícios que delas decorrem.
Simples, mas não menos delicado.
Para uma melhor compreensão desse novo mundo, as ideias
originárias de Massimo Durante1, remodeladas por Luciano Floridi2,
e o tema da infosfera, cuja escolha não poderia ter sido mais propícia
à época de suas análises e que norteiam nossas contribuições para o
tema.
Isso porque, das aulas presenciais no início de março de
2020, no âmbito da UFMG, passamos aos encontros síncronos, vir-
tuais, instados – alunos e professores - a nos adaptar à nova realidade
que nos foi imposta em decorrência do isolamento e distanciamento
sociais preconizados pelas situações decorrentes da pandemia deri-
vada da COVID-19, e assim, cada um de nós, reduzidos a inforgs3,
seres informacionais.
A introdução ao tema, feito por Durante (2017) fez com que
nos debrucemos sobre uma pretensão teórica, mas também prática,
na medida que elas nos impõem não apenas conhecer, mas também
melhorar a realidade.
Um mundo novo, feito de informação, e que por meio da
infosfera – espaço governado por leis evolutivas e que abrange espa-
ços on line e também o line, demanda de seus agentes, humanos e
A obra “Ethics, Law and Politics of Information: A guide do the Philoso-
phy of Luciano Floridi”, eBook, Springer Science Business Media B. V. 2017
introduziu as discussões preliminares aos estudos em seminários na dis-
ciplina Temas de Antropologia Jurídica – A autonomia e identidade na
infosfera, ministrada pelos Professores Doutores Brunello Souza Stancioli
e Marco Antônio Sousa Alves, no curso da Pós-Graduação da Faculdade
de Direito da UFMG, no primeiro semestre de 2020.
2 Em destaque, a sua obra “e 4th Revolution – How the infosphere is re-
shaping human reality”.
Na 4ª Revolução, não mais se teria como foco central o ser humano como
ser pensante (papel negativo), mas como inforgs, seres informacionais, que
não se confundem com uma humanidade ciborgue – geneticamente mo-
dicada, mas sim como agentes relacionais, no sentido de que podemos
pensar o que podemos ser em nossa integração com as tecnologias.
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