A sociedade de risco na infosfera: diálogo entre Ulrich Beck e Luciano Floridi

AutorPietra Vaz Diógenes da Silva
Páginas120-140
120 • Revolução Informacional - Capítulo 7
A sociedade de risco na infosfera: diálogo
entre Ulrich Beck e Luciano Floridi
Pietra Vaz Diógenes da Silva
Resumo
Este artigo busca aproximar os estudos do sociólogo alemão
Ulrich Beck e do lósofo italiano Luciano Floridi, valendo-se espe-
cialmente do conceito de sociedade de risco proposto por Beck e
das percepções de Floridi sobre as transformações promovidas pelas
tecnologias de informação e comunicação, incluindo suas propostas
de losoa e de ética da informação. Por meio de pesquisa bibliográ-
ca, observa-se que as teorias dos autores possuem escopos diferen-
tes, mas convergem principalmente ao observar que a sociedade tem
enfrentado riscos novos e crescentes. Traçar um paralelo entre os
autores mostrou-se pertinente para contextualizar a teoria de Beck
em meio a uma realidade informacional, bem como para observar
falhas de cunho sociológico na aplicabilidade da ética da informa-
ção de Floridi. Constatou-se que a conjuntura envolvendo os novos
riscos, de natureza informacional e oriundos da hiperconexão social,
deve ser analisada considerando riscos e forças sociais preexistentes,
sob a pena de reforçar a desigualdade social ao construir um cenário
excludente na infosfera.
Introdução
A história da humanidade não é formada apenas por dias,
meses, anos ou décadas. Mais do que isso, o que constrói as pessoas
e as sociedades é o que ocorre nesses intervalos: descobertas,
sentimentos, invenções, encontros e desencontros. O século XX,
nesse sentido, foi construído a partir de uma série de eventos
marcantes, contando com guerras, bombas, revoluções, crises,
ditaduras, homens na Lua, festivais de rock, quedas de muros,
ovelhas clonadas e muitos outros itens.
A intensidade desses eventos, bem como as mudanças pro-
vocadas por eles, levou a novas leituras da sociedade. Destaca-se
aqui o conceito de sociedade de risco, apresentado por Ulrich Beck
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em 1986. Para o sociólogo alemão, a sociedade perdeu o controle
e a previsibilidade da industrialização: o crescente desenvolvimen-
to tecnológico, em detrimento de garantir prosperidade e conforto
para as pessoas, acaba promovendo insegurança ao gerar novos ris-
cos para a humanidade (BECK, 2011).
Analisando as mudanças do século passado por uma pers-
pectiva diferente, em estudos que se estendem até a atualidade, Lu-
ciano Floridi foca na relevância que a informação foi ganhando nas
sociedades conforme as tecnologias de informação e comunicação
(TICs) foram sendo desenvolvidas. De acordo com o lósofo italia-
no, vive-se atualmente na infosfera, de forma que não há diferença
entre o real e o informacional: tudo é real, e tudo também é informa-
cional. A realidade – a própria vida – ocorre igualmente nos planos
analógico e digital, que são indissociáveis (FLORIDI, 2011).
A partir de estudo bibliográco de cunho teórico e qualita-
tivo, este artigo propõe uma aproximação entre as teorias de Beck, a
partir de seu livro “Sociedade de Risco: rumo a uma outra moder-
nidade” (2011); e de Floridi, especialmente com base em “e Onlife
Manifesto: being human in a hyperconnected era (2015), que em tra-
dução livre signica “O Manifesto Onlife: ser humano em uma era
hiperconectada”. Não se exclui a análise exploratória de outras obras
desses autores ou de terceiros, para criar um arcabouço aproximati-
vo das visões de ambos os autores e para relacioná-los. Busca-se, ao
nal, pensar criticamente uma realidade que é informacional e de
risco ao mesmo tempo.
Sociedade de risco
Em 1986, pouco depois da explosão do reator nº 4 da usina
nuclear de Chernobyl, “Sociedade de risco: rumo a uma outra mo-
dernidade” teve sua primeira edição publicada na Alemanha. Embo-
ra o livro já estivesse nalizado quando o acidente nuclear aconte-
ceu, o autor tratou de mencioná-lo no item pré-textual “A propósito
da obra”, lamentando que aquilo que a obra delineou de forma ar-
gumentativa acabou se mostrando uma descrição do presente: “Ah,
pudesse ter continuado a ser a evocação de um futuro a ser evitado!”
(BECK, 2011, p. 10).
Ulrich Beck nasceu em 1944, em uma região da Alemanha
que viria a ser anexada pela Polônia após a Segunda Guerra. Sua

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