Desmantelamento de calais e preocupações humanitárias

AutorLarissa Santos de Souza
Páginas25-26
25
ORGANIZADORA
PAULA WOJCIKIEWICZ ALMEIDA
A. A.
ANÁLISES DE ATUALIDADES INTERNACIONAIS
DESMANTELAMENTO DE CALAIS E PREOCUPAÇÕES
HUMANITÁRIAS
Desde o início da atual
crise migratória, a Europa tornou-
se o principal destino para as
pessoas em deslocamento forçado
em busca de refúgio. Em sua
maioria, provenientes da Síria,
esses grupos em movimento
olham para o continente europeu
como sua mais factível fonte de
esperança diante das perspectivas
esgotadas da realidade caótica
na qual se encontravam. Assim,
o Mar Mediterrâneo tornou-se o
principal meio de acesso para a
possibilidade de uma nova vida
em terras europeias. Essa entrada
permitiu acesso direto a países
costeiros; uma travessia marcada
por icônicos desastres, como a
morte de Alan Kurdi, criança de
três anos que fugia da guerra do
autointitulado “Estado Islâmico”
com sua família.
Infelizmente, como foi amplamente
noticiado no último ano pela mídia
internacional e corroborado
pela ONU e seus órgãos, o atual
panorama migratório passou a
ser considerado como a maior
catástrofe humanitária desde a
Segunda Guerra Mundial. Dado o
cenário e a constante pressão da
sociedade civil, alguns Estados
têm apresentado importante
posicionamento no que diz respeito
a políticas de acolhimento desses
migrantes; dentre eles podemos
dar especial foco à colaboração
da Turquia. Porém, à medida
que ocorre a propagação de um
discurso de que a crise migratória
está chegando ao fim, no campo
humanitário surgem novas
preocupações.
Atualmente, tem-se falado da
diminuição no volume de acesso
à Europa pelo Mar Mediterrâneo.
Apesar do menor fluxo de
travessias perigosas, o número de
pessoas que naufragam e chegam
ao óbito é assustadoramente
quase o mesmo. Aliadas às
contínuas mortes, surgem
no campo humanitário as
preocupações com a nova
realidade do desmantelamento
de campos montados para
acolhimento desses refugiados.
Por Larissa Santos de Souza*
Desmantelamento da
“Selva” de Calais
No último 14 de outubro, o Alto
Comissariado das Nações Unidas
para Refugiados elogiou a decisão
tomada pelo presidente francês
François Hollande de fechar a
famosa “selva” de Calais. A decisão
foi tomada devido à insalubridade
do local que o tornava insustentável
para ser mantido como alojamento
a longo prazo.
Embora essa decisão seja vista
como um momento de lucidez
do governo francês, algumas
questões passam a ser colocadas
à mesa. Cerca de 6.000 migrantes
e solicitantes de refúgios que se
alojavam no campo deverão ser
distribuídos aos demais espaços
humanitários na Europa. Devido
a essas distribuições, a ONG
Save the Children lançou um
comunicado alertando para o
risco que essa reorganização
representa, diante da realidade
de constante perigo que
retrata o tráfico de crianças.
Segundo a referida organização,
é um desapontamento ver
uma situação como essa ser
considerada um sucesso,
enquanto centenas de crianças
podem acabar sendo deixadas
para trás. Além do alerta acerca
da rede de tráfico de crianças,
outra constante preocupação da
organização é a necessidade de
esses imigrantes receberem as
devidas informações referentes
ao seu reassentamento. É
imprescindível que eles não
sejam simplesmente remanejados
sem nenhum tipo de aviso ou
informação.
Nesse sentido, segundo a ONU,
é fundamental que a França
se mobilize o quanto antes
para promover alojamentos
adequados, de modo a possibilitar
moradia para esses milhares
de imigrantes no país. Assim, a
fim de que todos os refugiados
e solicitantes localizados
na França possam viver em
condições decentes, seria
necessária a construção de cerca
de 20 mil novos acampamentos.
Contudo, mesmo após tal
realocação, as condições às quais
os migrantes serão submetidos
ainda não serão as ideais.
Em 2015, quando a crise migratória
chegou a seu ápice, a questão que
antes não era vista como política
passa a ser fortemente discutida
no bloco europeu e entre os
Estados. A abertura de fronteiras
a contragosto de muitos países foi
uma escolha política que colocou
em cheque a existência do conjunto
em detrimento das soberanias.
Nesse momento em que passa
a ser discutida a amenização da
crise, é necessário prestar atenção
ao afrouxamento das políticas e
preocupações relativas ao cuidado
com os imigrantes. Em meio a essa
nova crise política, é essencial
atentar à crise humanitária que
ainda existe e, agora, está em parte
“dentro de casa”. Sendo assim, o
desmantelamento do campo de
Calais, ainda que considerado
medida necessária, não exonera
a França da necessidade de
comprometimento no provimento
de alojamentos suficientes.
* Graduanda em Relações
Internacionais pela Pontifícia
Universidade Católica do
Rio de Janeiro (PUC-RIO).
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