O Direito Ambiental e os Desafios da Instalação de Empreendimentos Hidrelétricos no Brasil

AutorEduardo de Campos Ferreira e Victoria Elimelek de Weber
Ocupação do AutorMestre em Direitos Difusos e Coletivos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)/Graduada em Direito pela PUC-SP. Advogada em São Paulo
Páginas179-201
O Direito Ambiental e os Desafios da
Instalação de Empreendimentos
Hidrelétricos no Brasil
Eduardo de Campos Ferreira1
Victoria Elimelek de Weber2
1. Introdução
O Brasil possui uma das maiores redes fluviais do mundo, o que
o diferencia em relação às matrizes energéticas usualmente utilizadas
em outros países. Diante de sua característica hídrica, o Brasil tem o
benefício de ter como matriz energética basilar, uma fonte limpa, reno-
vável e abundante. O país se utiliza de tal potencial energético para o
desenvolvimento de energia hidrelétrica, possuindo 1.344 empreendi-
mentos hidrelétricos em operação, incluindo centrais geradoras hidre-
létricas, pequenas centrais hidrelétricas e usinas hidrelétricas3.
Apesar de ser uma fonte reconhecidamente limpa e renovável de
geração de energia, a instalação de empreendimentos hidrelétricos
1 Mestre em Direitos Difusos e Coletivos pela Pontifícia Universidade Cató-
lica de São Paulo (PUC-SP). Especializado em Direito Ambiental e Gestão
Estratégica de Sustentabilidade pela PUC-SP – COGEAE. Advogado em
São Paulo.
2 Graduada em Direito pela PUC-SP. Advogada em São Paulo.
3 Disponível em: -
sil/capacidadebrasil.cfm>. Acesso em: 31 maio 2019.
Prática do Direito Ambiental na Defesa dos Interesses de Empresas Privadas180
deve ser precedida da avaliação de seus impactos socioambientais, já
que tais empreendimentos são instalados em locais onde se têm o me-
lhor aproveitamento de correnteza dos rios.
Esses locais, por normalmente apresentarem baixa densidade
populacional e se encontrarem longe de centros comerciais, tendem a
possuir fauna e flora abundantes e abrigam comunidades tradicionais
(povos indígenas, comunidades tradicionais, remanescentes de qui-
lombolas etc.). Ademais, diversos empreendimentos hidrelétricos de-
pendem de prévia desapropriação de grandes porções de terra para o
acúmulo de água, acarretando a formação de áreas alagadas, com alte-
ração significativa das características locais.
Assim, esses empreendimentos geram uma série de impactos so-
cioambientais que ensejam mudanças para o ecossistema existente no
seu entorno. Do mesmo modo, com a alteração das características lo-
cais, há relevantes modificações sociais, afetando comunidades locais e,
em especial, comunidades tradicionais especialmente protegidas4.
Tendo em vista a dimensão dos impactos ambientais que envol-
vem a implantação de empreendimentos hidrelétricos, da magnitude
das obras de instalação e da repercussão da operação dessas atividades,
os processos de licenciamento ambiental tendem a ser complexos, com
exigência de estudos detalhados envolvendo uma gama enorme de es-
pecialidades e diferentes expertises, para avaliação completa e – como
é da essência do licenciamento ambiental – prévias à instalação e à ope-
ração dos empreendimentos.
4 Conforme afirma Solange David, ao abordar a necessidade de preocupação
dos empreendedores com o desenvolvimento sustentável: “Esse tema deve
ser observado de maneira especial pelos agentes que atuam no mercado de
energia elétrica, pois envolve uma conjugação de fatores relativos à evolu-
ção da própria sociedade e seus valores, o que pode impor limitações a
determinadas atividades, como é o caso da produção de energia elétrica em
certas condições e em determinadas regiões” (O meio ambiente, o setor elé-
trico e algumas iniciativas para uma economia sustentável no Brasil. In:
ROCHA, Fábio de Amorim da (coord.). Temas relevantes no direito de energia
elétrica, p. 558).

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