Censura e acesso à expressão

AutorKay Mathiesen
Páginas5-26
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cenSURa e aceSSO À
expReSSãO1
Kay Mathiesen2
1. INTRODUÇÃO
Ninguém quer ser um censor. Ou, mais precisamente, ninguém
quer ser chamado de “censor”. Descrever uma pessoa como um
censor, ou um ato como “censura”, é condenar a pessoa ou a
ação. Embora existam inúmeras chamadas às armas para resistir
à censura e compilações de casos de censura pelo mundo, pouco
trabalho tem sido feito para nos ajudar a entender o conceito em
si. Sem car claro com o que queremos dizer por censura, é difícil
controlar o que precisamente há de errado com ela e se, realmente,
ela está sempre errada. Aqueles que usam o termo simplesmente
assumem que nós sabemos o que ela é, que ela é errada, e não vão
muito além disso.
1 Ken Himma merece muitos agradecimentos pelos seus extensos comentários
críticos, que me empurram para esclarecer e defender a minha denição de cen-
sura. Agradecimentos pelas muitas discussões úteis também são devidos a Don
Fallis e aos meus alunos na Escolha de Recursos de Informação e Bibliotecono-
mia da Universidade do Arizona.
2 Tradução de Renato de Abreu Barcelos. Escola de Recursos de Informação e
Biblioteconomia Universidade do Arizona.
JOSE ADERCIO LIBERDADE.indb 5 04/02/2016 17:21:53
kay mathiesen
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Poder-se-ia esperar que os estudos de direito ou losoa pudes-
sem dar a resposta. No entanto, o conceito de censura é comumente
usado de maneira que vai muito além dos estritos conns jurídicos da
Primeira Emenda3. Nem os lósofos, mesmo aqueles que muito têm
escrito sobre “liberdade de expressão”, tentaram fornecer uma aná-
lise conceitual da censura em si4. Neste estudo, tento preencher esta
lacuna fornecendo uma denição de censura. Com esta denição em
mão, considero os tipos de justicativas dadas para a censura e apuro
os argumentos contra a censura.
2. O INTERESSE NO ACESSO À EXPRESSÃO
A censura limita o acesso a uma expressão, por deter o orador de
falar e o ouvinte de receber tal discurso5. Por uma “expressão” eu quero
dizer qualquer coisa que possa ser composta por uma pessoa e comu-
nicada à outra. Isso inclui itens como discursos, comunicações pesso-
ais, livros, artigos, compilações de dados, obras de arte, fotograas e
música. Tendo em conta os limites da censura e o acesso à expressão,
é importante ter claramente diante nós porque o acesso à expressão é
valioso. Stuart [sic] Cohen (1993, p. 223-230) fornece uma explicação
admiravelmente clara e convincente sobre os interesses humanos fun-
damentais que só podem ser satisfeitos se houver acesso às expressões
dos outros. Cohen liga nossa preocupação com a liberdade de expressão
a três interesses fundamentais: (1) interesse em expressão; (2) interesse
em deliberação; e (3) interesse em informação.
Cohen dene o interesse em expressão como “um interesse direto
na articulação de pensamentos, atitudes e sentimentos sobre questões
pessoais ou interesse humano mais abrangente e talvez através dessa
articulação inuenciar o pensamento e a conduta de outros” (COHEN,
1993, p. 224). Note que, enquanto a ênfase de Cohen está nos atos de
expressão dirigidos a outros com o objetivo de “inuenciar pensa-
3 Argumentarei na seção três deste artigo que não devemos equiparar a censura
à violação de direitos da Primeira Emenda. Em outras palavras, defendo que a
censura não é denição ou ato de governo.
4 Ver, por exemplo, Brink (2001), Cohen (1993), Dworkin (1981), Scoccia (1996)
e van Mill (2002).
5 Essa caracterização será mais precisada e defendida na seção seguinte.
JOSE ADERCIO LIBERDADE.indb 6 04/02/2016 17:21:53

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