Ética Na Empresa E Nos Negócios: Uma Meta A Ser Alcançada

AutorMaria do Carmo Whitaker
Ocupação do AutorAdvogada
Páginas263-283
ÉTICA NA EMPRESA E NOS NEGÓCIOS:
UMA META A SER ALCANÇADA
Maria do Carmo Whitaker*
Sumário: 1. Introdução; 2. O ser humano e sua dignidade; 2.1. Consciên-
cia; 2.2. Liberdade; 2.3. Responsabilidade; 3. As dimensões da pessoa; 3.1.
Sabedoria e virtude; 4. Uma nova visão da empresa; 4.1. Bem comum; 4.2.
O triple bottom line; 5. O ser humano integral atuante na nova concepção
de empresa; 6. A relação entre empresa e ética; 6.1. O princípio de sub-
sidiariedade; 6.2. O princípio da solidariedade; 7. Reflexos na legislação
brasileira; 8. Conclusão; 9. Referências bibliográficas.
1. Introdução
A afirmação de que “a ética é uma questão de sobrevivência para a
empresa” deve ser bem entendida. Não significa, apenas, que as empre-
sas por serem éticas terão melhores resultados financeiros e de caixa. A
ética na empresa e nos negócios requer fundamentos teóricos consisten-
tes, inseridos em certa tradição antropológica. Implantar a ética em uma
empresa, afirmam Cifuentes e Arreguín1, supõe consolidar uma visão do
* Ad vogada, graduada em Direito pela PUC /SP, com mestrado em Direito Processu al Ci-
vil pela Faculdade de Direito da USP e master em tec nologia da educação pela FAAP
– Fundação Arm ando Álvares Penteado. Foi Membro do Tribunal de Ét ica da OAB/SP.
Integrou o Grupo de E studos e Pesquisas sobre Ética A plicada, formado pelo CENE –
Centro de Est udos de Ética nas Organizações, p ertencente à FGV/SP. É consultora em
ética nas organizações, professora universitária, sócia fundadora da ALENE – Asso-
ciação Latino Americana de Ética Negócios e Economia, organizadora do site w ww.
etic aempresari al.com.br, ligad o ao Portal www.ac ademus.pro.br e autora de li vros e
de diversos art igos sobre ética empresarial.
1 CIFUENTES, Carlos Llano; Arreguín, Héctor Zagal. El resgate ético de la empresa y el
mercado. 1ª ed. Mexico: Ed. Trilhas, 2001, p. 118/119.
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ser humano e do mundo. Afirmam, também, que não há ética na empresa
e nos negócios sem uma teoria da felicidade humana, sem uma análise
dos vícios e das virtudes, do Bem e do Mal e das finalidades últimas do
ser humano. Para se definir conceitos éticos torna-se imprescindível es-
colher claramente um sistema de princípios e de valores, coerentes com
o sistema de crenças. É por esse motivo que o presente texto se propõe a
examinar conceitos do humanismo na atualidade, que envolvam a pessoa
e a empresa, em seus múltiplos relacionamentos.
Alguém afirmou que a ética não se ensina, transpira-se. De fato, a
aplicação da ética nas empresas não supõe um conhecimento teórico,
mas, prático. Os saberes práticos são adquiridos à base de sua vivên-
cia. O esportista, por exemplo, aprende a nadar, treinando na piscina.
A criança que dá os primeiros passos faz as suas tentativas à base de
ensaios e de erros. Caminante no hay camino, el camino se hace al andar, já
dizia o poeta Antonio Machado.
“A ética tem a ver com caráter, integridade, coerência, transparência,
todos aqueles valores que compõem os seres humanos, livres e racionais,
na sua trajetória de busca do bem e da verdade, na procura da felicidade.
Se o modo de agir do ser humano segue o seu modo de ser, e se esses
valores fazem parte da formação da pessoa, será natural que haja uma
tendência para a conduta ética2”. Daí a importância de os integrantes
da empresa desenvolverem hábitos éticos e praticarem as virtudes e as
habilidades requeridas para o aperfeiçoamento do caráter.
2. O ser humano e sua dignidade
O ser humano é um ser social, um ser de relações. Ele se relaciona
consigo mesmo, com o transcendente, com a Natureza e com as outras
pessoas. Essas relações do homem e da mulher com seus semelhantes
multiplicam-se constantemente.
“O homem é, com efeito, por sua natureza íntima, um ser social.
Sem relações com os outros, não pode nem viver nem desenvolver seus
dotes3.”
2 FR EITAS, Lourdes Maria Silva; W HITAKER, Maria do Carmo, SACCHI, Mario Gaspar.
Ética e internet: uma contribuição para a empresa. São P aulo: DVS Editora, 2006. p. XIII.
3 Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, nº 12 in Documento s do Vaticano II, nº 238.

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