Introdução

AutorPiero Calamandrei
Ocupação do AutorJornalista, Jurista, Político e Docente universitário italiano
Páginas7-20

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Se bem que o favor dos leitores tenha esgotado, em pouco mais de um ano, a primeira edição italiana deste livro, os críticos, mesmo os mais benevolentes, não acharam o título a seu gosto1. Pietro Pancrazzi julgou-o “um pouco pesado”; Mariano d’Amelio, “um tanto subjetivo”. E num primeiro olhar lançado sobre a capa, muitos outros leitores ficaram desconfiados. Alguns (principalmente os magistrados) julgaram adivinhar neste título certa subentendida reminiscência de Berni ou de Erasmo; outros (principalmente os advogados) recearam encontrar-se em face do expediente profissional de um con-

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frade apologista que, com o fim de hipotecar a favor dos seus clientes a simpatia dos juízes, não hesitara em se apresentar perante eles sob o aspecto obsequioso do panegirista.

Em face do exposto, o autor julga dever explicar o motivo que o levou a preferir este título a qualquer outro. E considerará pago o seu trabalho se conseguir demonstrar que, ainda que não tenha sido feliz na escolha, a fez, no entanto, na melhor das intenções.

Por detrás da palavra Elogio, o autor não quis dissimular qualquer ponta de sátira, como o prova o respeito com que no livro fala da justiça. Mas também não quis esconder nele as maléficas intenções de uma sutil captatio benevolentiae, como o atesta a sinceridade livre com que fala dos juízes neste mesmo livro.

Escolhendo essa palavra, empregue outrora para designar um gênero de exercício oratório hoje caído em desuso, o autor preferiu-a principalmente pelo sabor antigo e livresco que a tradição lhe deu. Por isso mes-

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mo lhe pareceu que podia significar com exatidão que no seu louvor dos juízes não visava a um objetivo grosseiramente profissional. Pelo contrário, quis conservar uma certa serenidade de humorista, literária, sorridente e livre, que lhe permitiu – se acaso não se enganou – guardar as distâncias e a dignidade. Louvando com discrição e sem servilismo, sorrindo das fraquezas humanas com indulgência, trata o assunto com a maior simpatia, podendo mesmo dizer-se com certa poesia, se não parecesse presunção misturar a poesia com estas coisas de juízes e de advogados.

Mas logo após ter escolhido, pelas razões expostas, o título de Elogio, o qual, deixado sozinho, podia fazer pensar num vago ensaio puramente literário, o autor entendeu oportuno acrescentar que esse “elogio dos juízes” tinha sido escrito por um advogado. Por esta razão, julgou que seu livro podia apresentar-se ao leitor sob o aspecto de um documento. Na verdade, escreveu-o um homem naturalmente inclinado para a polêmica e para

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a luta, um homem que possui a experiência quotidiana do rigor dos juízes e merece ser acreditado quando afirma que as qualidades dos magistrados excedem de modo notável seus defeitos. Breve: com esse acréscimo do título, o autor quis discretamente tranquilizar o leitor da seguinte forma: “Digo bem dos juízes, apesar de ser advogado. Se o digo, podem, pois, acreditar-me!”.

O assunto do livro não é, aliás, apenas o juiz, mas o juiz visto pelo advogado. Por outras palavras: o advogado, abafando por momentos seus instintos naturais de crítica, põe-se a contemplar com uma alma igual (o que não lhe sucede todos os dias) esse juiz...

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