Prefácio

AutorPaulo Ayres Barreto
VII
PREFÁCIO
Atravessamos o tempo do “giro linguístico”, concepção do
mundo que progride, a velas pandas, seja nas declarações estri-
dentes de seus adeptos mais fervorosos, quer no remo surdo das
construções implícitas dos autores contemporâneos. A cada dia,
com o cruzamento vertiginoso das comunicações, aquilo que fora
tido como “verdade” dissolve-se num abrir e fechar de olhos, como
se nunca tivesse existido, e emerge nova teoria para proclamar,
alto e bom som, também em nome da “verdade”, o novo estado de
coisas que o saber científico anuncia. Em exemplo recentíssimo,
temos Plutão, “o nono planeta”, que acaba de ser inapelavelmen-
te desqualificado pelos “avanços” da Astronomia. Pequena subs-
tituição na camada de linguagem que outorgava àquela esfera
celeste a condição de planeta foi o suficiente para desclassificá-lo,
oferecendo à comunidade das ciências outro panorama do nosso
sistema solar. Mas é curioso perceber que enquanto isso, indife-
rente às linguagens que nós produzimos sobre ele, Plutão conti-
nua cumprindo sua trajetória, como se nada houvesse acontecido.
Quando
Nietzsche
asseverou que a ciência aspirava ao saber
sem ater-se a suas eventuais consequências, já antevia modifica-
ções como essa, que estendem sobre nós o manto do ceticismo,
porém não impedem o progresso do conhecimento e a marcha
inexorável da pesquisa, levantando apenas novas conjecturas
que proporcionam outras refutações, para lembrar POPPER.
As conquistas do “giro” fazem sentir-se em todos os qua-
drantes da existência humana. Ali onde houver o fenômeno

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