Prefácio

AutorTercio Sampaio Ferraz Junior
Páginas23-27
XXIII
PREFÁCIO
Um prefácio não é uma introdução à obra que se pre-
facia. A introdução cabe ao autor da obra. Também não se
trata de um currículo biográfico e bibliográfico do autor. Isso
é tarefa editorial que compete a quem publica. Um prefácio
é, como diz o étimo, um pre-facere, um fazer antes, que busca
inspiração na obra e seu autor.
João Maurício Adeodato foi meu orientando, mas é,
antes de tudo, alguém que pensa. Um pouco na linha recla-
mada por Schopenhauer (Parerga und Paralipomena, 1851),
soube desenvolver essa capacidade rara de pensar, não sem
esteio em experiências intelectuais pregressas, mas sem uma
preocupação apenas livresca e erudita restrita a comentários
do que dizem outros. Arranca, assim, da alma sua impressão
da circunstância e a converte em conceito. Pensa como uma
expressão de angústia intelectual: quer entender, mesmo que
não encontre fundamentos para aquilo que entende.
Talvez aí o cerne temático da dúvida, quase um Leitmotiv
para um autor que também é músico, capaz quiçá por isso de
ter a sensibilidade para as práticas jurídicas, não como busca
da justiça, mas como justiça da busca. Ou seja, da justiça como
problema e não como resultado. Donde sua intransigente dú-
vida cética quanto a uma verdade essencial. O que não obsta
uma preocupação constante de crítica. Mas crítica no sentido
de parrhesia, como apontado por Foucault (em suas aulas na
Universidade de Berkeley em 1986; v. Diskurs und Wahrheit,
Berlin, 1996).

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