Vitimologia e Síndrome de Estocolmo: Confluências

AutorLília Brum de Cerqueira Leite Ribeiro, Flávia Sanna Leal de Meirelles e Sarah Rebouças Nascimento
Páginas479-495
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VITIMILOGIA E SÍNDROME DE ESTOCOLMO:
CONFLUÊNCIAS
Lília Brum de Cerqueira Leite Ribeiro
Flávia Sanna Leal de Meirelles
Sarah Rebouças Nascimento
Resumo: O presente trabalho visa apresentar, dentro dos estudos da
vitimologia, a Síndrome de Estocolmo, processo em que vítimas
desenvolvem sentimentos positivos em relação ao opressor. A
Síndrome é mais presente em crimes de certo lapso temporal, tal como
sequestros, raptos e outras formas de violência abordadas ao longo da
pesquisa.
Palavras-chave: Síndrome de Estocolmo; vitimologia;
interdisciplinariedade.
Abstract: This study aims to present, within the victimology studies,
the Stockholm Syndrome, a process in which victims develop positive
feelings toward the oppressor. The syndrome is more prevalent in
certain time lapse crimes such as kidnappings, abductions and other
forms of violence presented throughout the research.
Keywords: Stockholm Syndrome; victimology; interdisciplinarity.
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa visa apresentar o fenômeno psicológico que
pode ser desencadeado por vítimas que sofrem crimes de sequestro,
rapto, prisão domiciliar, e outras violências de certa duração. O
desenvolvimento de tal fenômeno denomina-se Síndrome de
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Estocolmo. Embora eventos psicológicos estejam invariavelmente
ligados às áreas de medicina e psicologia, deve-se ter em conta que
todos os processos relativos às vítimas se encontram no interesse da
vitimologia, sendo seu estudo de caráter inter e multidisciplinar.
Utilizando da metodologia revisão bibliográfica, repassa-se o
contexto histórico do caso que culminou pela primeira vez na utilização
do termo. Reconhecido e largamente utilizado por criminólogos,
psicólogos e psiquiatras, a Síndrome de Estocolmo é caracterizada
quando há o desenvolvimento de vínculos afetivos positivos da vítima
em relação ao seu algoz. É na busca em compreender melhor este
fenômeno raro e intrigante que se desenvolve o trabalho abaixo, tendo
como contorno fatos históricos, características marcantes e enfim casos
práticos em que a síndrome foi evidenciada.
1. A VITIMOLOGIA
O olhar sobre a vítima, sua participação no cenário criminal, seu
estatuto, sua compreensão da realidade social são fatos recentes. O
estudo deste campo denominou-se vitimologia e apresenta neste
trabalho um de seus desdobramentos (SANI, 2011).
O primeiro estudo voltado para a vítima data de 1941, do
professor alemão Hans V on Hentig, cujo títu lo “The Criminal and his
victim” tratou, entre outros aspectos, da vitimogênese: relação
delinquente-vítima (SOUZA, 2015). No entanto, considera-se
Benjamin Mendelsohn o pai da vitimologia moderna, tendo feito da
vítima objeto de estudo próprio quando apresentou em 1947 a
conferência “Um Horizonte Novo na Ciência Biopsicossocial a
Vitimologia” na Universidade de Bucareste, Romênia (DELFIM,
2016).
A vitimologia é considerada uma ciência autônoma e advém da
criminologia, que tem como objeto o estudo do crime, do delinquente,
da vítima e do controle social do comportamento do criminoso (CRUZ,
2010).
O estudo da Síndrome de Estocolmo tem vários aspectos dentro
da vitimologia. Em primeiro lugar compreender esta relação de afeto

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