Capitalismo de plataforma e a impossibilidade do trabalho digno
| Autor | Ricardo Festi |
| Ocupação do Autor | Professor Adjunto do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com estágio de pesquisa na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris |
| Páginas | 126-137 |
CAPÍTULO 9
(1) Professor Adjunto do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP), com estágio de pesquisa na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris.
(2) SCHWAB, Klaus. La quatrième révolution industrielle, Malakoff: Dunod, 2017. p.13. Tradução nossa.
Capitalismo de Plataforma e a
Impossibilidade do Trabalho Digno
RICARDO FESTI
(1)
Resumo: O texto busca problematizar os impactos da assim chamada Quarta Revolução Industrial, em particular o surgimento
das plataformas digitais de transporte urbano, sobre o trabalho. Na primeira parte, mobiliza-se autores do campo da sociologia do
trabalho que se debruçaram sobre a questão da automação e da revolução digital. Desta forma, ressalta-se que a singularidade da
atual revolução tecnológica reside na revolução digital, que se apresenta como um novo meio que permite aprofundar o longo
processo de automatização, estendendo-o, dessa forma, para a indústria de serviços. Numa segunda parte do texto, após proble-
matizar a economia de plataforma e a função de controle dos algoritmos, analisa-se os debates no meio jurídico e político sobre a
regulação dos serviços e a desregulação das relações de trabalho nesse ramo econômico. Toma-se, como exemplos, as discussões
ocorridas na França, nos EUA e no Brasil.
Palavras-chave: Sociologia do trabalho. Trabalho de plataforma. Mundo do trabalho
Abstract: The text seeks to problematize the impacts of the so-called Fourth Industrial Revolution, in particular the emergence
of digital urban transport platforms, on work. In the first part, we mobilize authors from the field of sociology of work who have
addressed the issue of automation and the digital revolution. Thus, it is noteworthy that the uniqueness of the current techno-
logical revolution lies in the digital revolution, which presents itself as a new medium that allows deepening the long process of
automation, thus extending it to the service industry. In a second part of the text, after problematizing the platform economy
and the control function of the algorithms, we analyze the debates in the legal and political environment about the regulation of
services and the deregulation of labor relations in this economic field. Examples are the discussions that took place in France, the
USA and Brazil.
Keywords: Sociology of work. Platform work. World of work.
1. INTRODUÇÃO
Desde meados de 2010, está em curso em esca-
la global um novo processo de revolucionamento do
mundo do trabalho. Diferentemente de outras revolu-
ções tecnológicas do passado, esta tem a singularidade
de, pela primeira vez, atingir ao mesmo tempo todos
os ramos da economia capitalista. O que permite isso
são os meios e os suportes criados nas últimas décadas,
em particular aqueles que possibilitam a propagação
da tecnologia digital. Assim, a revolução digital está na
dianteira da então chamada Quarta Revolução Indus-
trial, o que tem conduzido “a uma mudança de para-
digmas sem precedentes no domínio da economia e
do social, nos negócios e no plano individual”(2). Nesse
contexto, as plataformas digitais têm sido vanguarda
das mais importantes inovações no que diz respeito às
formas de gestão empresarial, às tecnologias de auto-
mação, aos litígios comerciais e trabalhistas e às rela-
ções de emprego.
Neste texto, buscamos pontuar questões que
possam elucidar o objeto escolhido. Num primeiro
momento, mobilizamos autores clássicos e contem-
porâneos da sociologia do trabalho para caracterizar
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