Direito e literatura: entre a palavra dos mestres e o canto dos originais
| Autor | Alexandre Fabiano Mendes e Luiz Felipe Teves de Paiva Sousa |
| Páginas | 25-41 |
25
DIREITO E LITERATURA:
ENTRE A PALAVRA DOS MESTRES E
O CANTO DOS ORIGINAIS
Alexandre F abiano Mendes1
Luiz Felipe Teves de Paiva Sousa2
Resumo: Nas duas últimas décadas, o movimento Direito e Literatura
encontrou impasses e realizou balanços sobre o seu percurso até então
empreendido. Para além da oscilação entre uma condenação pelo seu
fracasso e um reconhecimento de um novo momento de efervescência, há
o invariável reconhecimento de sua emergência nos esforços de um autor:
James Boyd White. Propomos no presente texto resgatar essa
incontornável origem pela análise de sua principal obra (The Legal
Imagination), mas para realizar um desvio qualitativo. Explorando um
dos principais cânones da literatura americana – a obra Billy Budd de
Herman Melville –, bem como os escritos de Gilles Deleuze e D. H.
Lawrence, buscamos entender como a apreensão da relação entre direito e
literatura pode ser explorada por marcadores político-filosóficos, para
além daqueles meramente culturais e retóricos. Marcadores que permitem
ver a exploração de duas funções distintas: uma paterna e outra fraterna.
E que apresentam uma outra percepção acerca dos limites que
comumente se apontam sobre as análises de James Boyd White.
Palavras-chave: Direito e Literatura; James Boyd White; Herman
Melville; Gilles Deleuze; D. H. Lawrence; função paterna; fraternidade
universal.
1 Professor Adjunto da Faculdade de Direito da Un iversidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ). Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito da UERJ na linha de Teoria
e Filosofia do Direito (PPGD/UERJ).
2 Doutor e mestre em Direito pela UERJ na linha de Teoria e Filosofia do Direito
(PPGD/UERJ).
26
Law and Literature: between the word of the masters and the singing of
the originals.
Abstract: In the last two decades, the Law and Literature movement
encountered impasses and carried out balances on its path taken so far.
Beyond the oscillation between a condemnation of its failure and a
recognition of a new moment of effervescence, there is the invariable
recognition of its emergence in the efforts of one author: James Boyd
White. We propose in the present text to rescue this unavoidable origin
by analyzing his main work (The Legal Imagination), but to make a
qualitative deviation. Exploring one of the main canons of American
literature – the work Billy Budd by Herman Melville –, as well as the
writings of Gilles Deleuze and D. H. Lawrence, we seek to understand
how the apprehension of the relationship between law and literature can
be explored by political-philosophical markers, beyond those merely
cultural and rhetorical. Markers that allow us to see the exploration of
two distinct functions: one paternal and the other fraternal. Markers that
present another perception about the limits that are commonly pointed out
on the analyzes of James Boyd White.
Keywords: Law and Literature; James Boyd White; Gilles Deleuze;
Herman Melville; paternal function; universal fraternity.
Introdução
Em 2005, Julie Stone Peters publica o breve artigo “Law,
literatur e and the vanishing real: on the future of a interdisciplinary
illusion” sustentando que teria chegado o momento de reconhecer o
fracasso do movimento Direito e Literatura, principalmente em sua
vertente americana (Law a nd Literatur e). O auge da efervescência
interdisciplinar das décadas anteriores teria tido como mito de origem a
publicação do livro The Legal Imagination (1973/1985), de James Boyd
White. E teria se traduzido na busca da resolução de duas expectativas
recíprocas: a literatura poderia salvar o direito de sua tendência ao
tecnicismo e à burocratização, lembrando-o de sua humanidade perdida; a
literatura poderia tornar-se mais prática, se afinando às demandas de
Para continuar a ler
PEÇA SUA AVALIAÇÃO