O Combate ao Furto de Energia e seus Desafios: Analogia aos Crimes Tributários

AutorIlan Leibel Swartzman
Ocupação do AutorAdvogado na Light Serviços de Eletricidade S.A.
Páginas540-556
540 O COMBATE AO FURTO DE ENERGIA E SEUS DESAFIOS: ANALOGIA AOS CRIMES...
1 INTRODUÇÃO
Com a possibilidade de concessão dos serviços p’blicos delegados as
concessionárias passaram a explorar o fornecimento de energia elétrica
sob a iscalização e regulamentação das Agências Reguladoras passaram
a observar um novo paradigma no setor energético
Neste momento as concessionárias identiicaram ser crucial a neces
sidade de desenvolver o setor por meio de i estipulação de metas e
resultados ii investimento em novas tecnologias iii aprimoramento
de gestão iv preocupação constante com a melhoria na qualidade do
serviço de distribuição e v sua devida e justa contraprestação
Neste novo formato de gestão as concessionárias se viram diante de
um cenário com um grande desaio o combate às perdas não técnicas mais
precisamente do furto de energia elétrica Seja ele simples ou qualiicado
mediante fraude é crime tipiicado no art do Código Penal
Sabese que são diversas as causas externas que alimentam as perdas
não técnicas Não se trata apenas do baixo nível de renda da população
situação econômica do país elevada carga tributária ocupação desorde
nada das cidades taxa de desemprego elevação dos índices de criminali
dade falta de exemplo e de estrutura do Estado mas também a cultura
da impunidade e a percepção generalizada da população de que o furto de
energia elétrica não seria um crime
A antropóloga (ilaine Yaccoub
no artigo O Gato de Energia Elétrica
Status Controvérsias e Moralidades que vivenciou o tema relatou que
Quando perguntei o motivo responderam simplesmente que sempre
izeram que consideravam a tarifa da concessionaria alta demais e que
não queriam deixar de se beneiciar do conforto que lutaram para
conquistar Dormir no arcondicionado por exemplo é um relexo dessa
conquista e ao instituir um novo hábito de consumo era árduo não dar
Art    Subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel Pena  reclusão de
um a quatro anos e multa 
   Equiparase à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha
valor econômico
Furto qualiicado
   A pena é de reclusão de dois a oito anos e multa se o crime é cometido
))  com abuso de coniança ou mediante fraude escalada ou destreza
YACCOUB (ilaine Temas Relevantes no Direito de Energia Elétrica – Tomo II Rio
de Janeiro: Lumen Juris  p 
ILAN LEIBEL SWARTZMAN 541
continuidade a ele não conseguiam dormir no calor Outro ponto levan
tado constantemente é que não consideravam justo o valor cobrado e
diziam que com o dinheiro que poupavam com a conta de energia prefe
riam gastar comprando outros bens como roupas ingressos para shows
trocando de carro eletrodomésticos etc

Outro ponto que corrobora para esse entendimento é a própria noção
de crime e sua representação O fato de o gato ser considerado um ato
criminoso no âmbito jurídico não signiica que as pessoas assim o consi
derem e pratiquem em suas vidas Para muitos interlocutores o gato é a
expressão de uma espécie de arte da viração e os limites entre o informal
o ilegal e o ilícito segundo Telles e (irata  se fundem e confundem
Os interlocutores negam estar matando ou roubando o que nos remete
à conclusão de que a noção deles  e de muitos de seus semelhantes  de
crime envolve a ideia de vítima  seja ela um corpo caído sem vida ou
uma pessoa sendo agredida em um assalto A noção de crime está direta
mente relacionada ao de vitimização para esse grupo O Estado anterior
mente e a concessionária atualmente são atores sem rosto Para o senso
comum não há vítimas portanto também não há crime
O resultado disso segundo a ANEEL é de que o prejuízo com o furto
de energia elétrica no Brasil considerando as  das  distribuidoras que
passaram pelo  ciclo de revisões tarifárias no período de  a 
chegou ao patamar de R  bilhões ao ano
)sso representa aproximadamente  do consumo do mercado cativo
elétrico brasileiro Esse montante seria suiciente por exemplo para abas
tecer anualmente os  municípios atendidos pela CEM)G Distribuição e
as  cidades com fornecimento da Companhia Energética do Maranhão
CEMAR ou ainda ao Uruguai
Os resultados dessa percepção são os n’meros do relatório divulgado
pela Light concessionária do Rio de Janeiro Nele é possível constatar que
até  o total de perdas não técnicas em baixa tensão chegou a 
Em um cenário mais atual em junho de  o índice de perdas não
técnicas na baixa tensão chegou a  Figura 
Disponível em httpwwwaneelgovbraplicacoesnoticiasOutputNoticias
cfm)dentidadeidarea
O mercado cativo é formado pelos consumidores que só podem comprar energia
da concessionária de distribuição que atua na rede à qual estão conectados
Disponível em httplightinfoinvestcombrptbsptbhtml

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