Doença profissional e ambiente de trabalho do motorista - aspectos médicos

AutorDirceu Rodrigues Alves Jr.
Ocupação do AutorMédico clínico formado pela Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro
Páginas276-299
276
VIII
DOENÇA PROFISSIONAL E AMBIENTE DE
TRABALHO DO MOTORISTA — ASPECTOS MÉDICOS
Dirceu Rodrigues Alves Jr.(*)
1. ASPECTOS MÉDICOS SOBRE A ATIVIDADE DE MOTORISTA PROFISSIONAL
O transporte desorganizado, com máquinas móveis extremamente perigosas, desloca-se sem
limites por toda a cidade comprometendo a saúde do trabalhador, do usuário e da população em
geral.
O trinômio homem-máquina-meio é submetido à falta de organização e adequação.
As indústrias em geral apresentam fatores de risco que comprometem a saúde do trabalhador,
por isso, são obrigadas a atuarem de maneira preventiva fazendo a prof‌i laxia de tais riscos. Quando
não tem como impedir o risco, tem que atuar com os equipamentos de proteção individual ou coletiva.
Conclusão, dentro de uma empresa fechada, cercada por muros, existem leis que regulam as
atividades, as máquinas, o comprometimento da higiene ambiental, os riscos de acidentes e doença
ocupacional. O trinômio Homem — Máquina-Meio é a todo o momento supervisionado e dirigido por
uma equipe de segurança e medicina do trabalho e f‌i scalizada pela Delegacia Regional do Trabalho
e pela Vigilância Sanitária.
Nesse trabalho, entra a matéria prima na máquina e lá no f‌i nal sai o produto pronto.
Essas indústrias são proibidas por lei de comprometerem a saúde do trabalhador e o meio
ambiente.
Quando falamos em transporte, estamos falando de máquinas mais perigosas do que aquelas
que f‌i cam entre muros. Estas são móveis o operador f‌i ca no seu interior e a matéria prima é gente.
É a indústria do transporte que acontece fora dos muros das fábricas, nas ruas e espalhadas por
toda a cidade. Essa indústria é constituída por máquinas extremamente agressivas ao organismo do
homem, pelos fatores de risco até mais exacerbados que algumas indústrias comuns. Nessa indústria
a máquina tem o pior risco, é móvel.
A matéria prima é gente e o produto f‌i nal tem que continuar a sendo gente.
O operador trabalha dentro da máquina. Não há “layout”, não temos como distribuir essas
máquinas móveis de tal maneira que possamos reduzir os riscos aos operadores, aos usuários e a
(*) Médico clínico formado pela Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, UNIRIO, com pós-graduação em
Medicina Aeroespacial, Medicina do Trabalho e Medicina de Tráfego; ex-diretor do Centro de Inspeções de Saúde para
Aeronavegantes do Ministério da Aeronáutica e consultor na área de Medicina do Trabalho e Medicina de Tráfego; foi
coordenador do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional de algumas empresas multinacionais; conferencista
em Congressos Nacionais e Internacionais; Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional
da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego — ABRAMET; Professor Convidado dos Cursos de Pós-Graduação em
Medicina do Trabalho e Medicina de Tráfego do Instituto Oscar Freire da Universidade de São Paulo; conselheiro do
Instituto P.A.R.A.R.; escreve artigos para revistas e sites especializados na área de trânsito, transporte e saúde ocupacional;
autor dos livros “Eu, Você e a Idade”, “Manual de Saúde do Motorista Prof‌i ssional“ e “Medicina do Transporte”.
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população em geral. Não vemos as visitas da Delegacia Regional do Trabalho e Vigilância Sanitária
nos locais de operações. Não vemos serviço de Segurança e Medicina de Tráfego atuante para
minimizar riscos.
O trabalho penoso é caracterizado pela sobrecarga física e mental.
A característica do trabalho é de ser extremamente penoso devido à sobrecarga física e mental.
Tal sobrecarga é nitidamente demonstrável através do estresse a que todo trabalhador da área de
transporte é submetido. O homem é submetido ao estresse físico marcado pelo excesso de movimentos
dos membros superiores, membros inferiores e coluna.
AINDA PELO STRESS
— PSÍQUICO
— SOCIAL
Para demonstrar essa sobrecarga, f‌i zemos um trabalho de pesquisa e observamos que num
espaço de 80 km percorridos por um coletivo em área urbana, foram precisas 06 horas e 40 minutos
e foram realizados 23.500 movimentos de pernas, braços e coluna.
O estresse psicológico é causado pelas preocupações com os movimentos do veículo, com
entrada e saída de usuários, com os riscos de acidentes com relação ao usuário e pedestre, com
irritação produzida pelo trânsito lento e ações de outros motoristas, assaltos, violência etc.
A tudo isso se soma o estresse social, af‌l orado pela irritabilidade socioeconômica, os problemas
relacionados à família e tudo mais.
Este mesmo trabalho sofre ainda agressões por meio dos riscos físico, químico, biológico,
ergonômico e de acidentes.
Além disso, ainda penoso pelos riscos físico, químico, biológico, ergonômico a que são
submetidos. O risco físico é constituído por vibração de corpo inteiro, ruído que varia ente 78 a 98
decibéis e pelas variações térmicas. Sabemos que o ruído médio é em torno de 87 decibéis e que está
acima do que preconiza a lei, que é de 85 decibéis para cada 08 horas como jornada de trabalho.
Sabemos que muitos dos trabalhadores dessa área chegam a desenvolver 12 a 16 horas de
trabalho por dia, realizando em alguns casos, duas jornadas de trabalho, uma de 04 às 10 horas no
pico da manhã e outra no pico da tarde-noite.
Para marcar o risco químico, temos a todo o momento, como produtos da combustão de
derivados de petróleo, o monóxido de carbono, o dióxido de enxofre e o dióxido de nitrogênio,
substâncias tóxicas para o nosso organismo. Ainda o material particulado constituído de poeiras e
de fuligem. O risco biológico pode ser observado nos coletivos fechados e também naquelas em que
há ar refrigerado, aparelhos estes que sempre por def‌i ciência de manutenção introduzem no meio
ambiente, fungos, bacilos, vírus, bactérias, outras poeiras etc. Naqueles que transportam material
orgânico, como gado, aves, suínos etc.
Finalmente o risco ergonômico caracterizado por postura, esforço e condições ambientais como
ventilação, iluminação etc. Ninguém ignora que o banco do motorista tem que ter uma maleabilidade
para poder se adequar às necessidades individuais. Muitas vezes, a ausência dessa maleabilidade
leva a postura incorreta e consequentemente a sinais e sintomas.
Em função de tudo isso é comum o motorista procurar o ambulatório médico com queixas
variadas como:
• Fadiga
• dores nas pernas
• cãibras

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