Como se Fosse da Família: Interconexão entre Trabalho Infantil Doméstico, Racismo e Gênero

AutorRosaly Stange Azevedo, Cristina Grobério Pazó
Páginas195-207
COMO SE FOSSE DA FAMÍLIA: INTERCONEXÃO ENTRE TRABALHO INFANTIL DOMÉSTICO, RACISMO E GÊNERO | 195
COMO SE FOSSE DA FAMÍLIA: INTERCONEXÃO ENTRE TRABALHO
INFANTIL DOMÉSTICO, RACISMO E GÊNERO
Rosaly Stange Azevedo(1)
Cristina Grobério Pazó(2)
INTRODUÇÃO
O objetivo geral do presente artigo é demonstrar que a maior incidência de crianças e
adolescentes do sexo feminino, negras, em situação de trabalho doméstico, evidencia a inte-
ração entre racismo, gênero e classe, em uma evidente discriminação ocupacional, pela qual a
avaliação de atributos não produtivos, como a cor e o sexo, resulta na exclusão ou no acesso
limitado a posições valorizadas no mercado de trabalho.
A importância da compreensão da ideologia subjacente ao trabalho doméstico, sua in-
terconexão com a aceitação social do trabalho infantil e seus desdobramentos na vida dos
pequenos trabalhadores excede ao caráter meramente teórico.
Assim, para desenvolver este estudo, utilizamos, como marco teórico, a proposição de
Ricardo Antunes (1999), demonstrando, na primeira parte do artigo, a existência de explora-
ção do trabalho doméstico pelo capital, uma vez que é com a contratação de uma pessoa para
lavar, passar, cozinhar e cuidar dos fi lhos que são criadas as condições indispensáveis para a
reprodução da força de trabalho.
Contratar um trabalhador doméstico possibilita, aos seus contratantes, seus patrões, a
ampliação do tempo fora do trabalho, permitindo-os participar, assim, do sistema de metabo-
lismo social, convertendo tempo livre em tempo útil ao capital, seja em tempo para consumo,
seja para o alcance da mídia da indústria do consumismo.
Na segunda parte, este trabalho realiza a interconexão entre trabalho infantil doméstico
e gênero, revelando, assim, que no universo do mundo produtivo e reprodutivo, vivenciamos
também a efetivação de uma construção social sexuada, em que meninos e meninas são, desde
a mais tenra idade, pela família e pela escola, diferentemente qualifi cados e capacitados para o
ingresso no mercado de trabalho.
A terceira parte deste artigo analisa mecanismos e práticas individuais informais de inti-
midação, como humilhações e agressões verbais e não verbais, decorrentes de uma cultura que
naturaliza a hierarquia racial.
(1) Mestre em Direito pela Faculdade de Direito de Vitoria; Juíza Substituta do Trabalho do Tribunal Regional do
Trabalho da 17ª Região; Gestora Regional do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Email: rosalystange@
terra.com.br.
(2) Doutora em Direito pela Universidade Gama Filho — UGF; docente da Faculdade Estácio de Sá de Vitória/ES;
advogada. Email: <crispazo@uol.com.br>

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