Um Grito Silencioso: A Negligência Internacional no Genocídio do Povo Rohingya

AutorLuis Guilherme Pecene Lins, Vilson Hassen Dam Xavier e George Oswaldo Cruz
Páginas435-451
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UM GRITO SILENCIOSO:
A NEGLIGÊNCIA INTERNACIONAL
NO GENOCÍDIO DO POVO ROHINGYA
Luis Guilherme Pecene Lins
Vilson Hassen Dam Xavier
George Oswaldo Cruz
Resumo: Esta pesquisa interpretativa se constitui em um estudo de
caso acerca do genocídio do povo Rohingya em Mianmar. Desta
forma, os objetivos desta pesquisa são realizar um levantamento
histórico de Mianmar, destacando as especificidades da origem da
Minoria Rohingya e sua perseguição até os dias atuais, expor o
caso da perseguição aos Rohingyas por motivos étnicos-
religiosos como uma ação institucionalizada pelo governo
mianmarense e entender as consequências geopolíticas da
perseguição do povo Rohingya e a negligência internacional acerca
do caso. A análise do caso, por sua vez, fez-se através da ótica das
teorias construtivista e da securitização em Relações Internacionais.
Tal trabalho teve seu desenvolvimento com a realização de pesquisa
bibliográfica, focando em autores que realizaram pesquisa em
campo e/ou vivenciam a as consequências do caso, como o Doutor
Imtiaz Ahmed, bengali, professor de Relações Internacionais da
Universidade de Dakha, mestre em Relações Internacionais pela
Universidade Nacional da Austrália e Ph.D. em Ciência Política pela
Carleton University, Canadá. Por fim, os dados obtidos da
pesquisa revelam a confirmação da perseguição
institucionalizada, suas origens e motivações, consequências e o
porquê da negligência internacional; dados que concluem o
ressentimento histórico criador do preconceito religioso e do racismo
como principal fator do genocídio, e as relações de ganhos nas
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relações com Mianmar e a falta de sofrimento direto das
consequências do caso por parte das grandes potências como fator
primordial da negligência internacional.
Palavras-chave: negligência internacional; ONU; genocídio;
direitos humanos; direitos das minorias; Rohingyas.
INTRODUÇÃO
Mianmar, país do sudeste asiático com mais de 100 grupos
étnicos, sendo o mais predominante os birmaneses, e composto por
uma população aproximadamente 90% budista, é hoje o palco de
uma das maiores perseguições institucionalizadas do mundo: a
perseguição ao povo Rohingya.
Parte da falta de visibilidade internacional se deve pela falta
de conhecimento acerca da historicidade e da profundidade do caso.
Neste caso, nos é necessário redescobrir o processo histórico que
construiu a atual perseguição aos Rohingyas, como se dá de fato a
perseguição e a atualidade do caso. Portanto, quem são os
Rohingyas?
A construção da identidade social que configura não só o
povo Rohingya mas como todos os outros, segundo Badredine Arfi,
em seu artigo “Ethnic Fear: The Social Construction of Insecurity”
(1998), se por três bases, sendo elas. A Primeira a enfatização
étnica das memórias históricas. A memória histórica é a recoleção e
interpretação de um passado compartilhado. Essas memórias provêm
de historiadores, artistas, lendas transmitidas de geração em geração
e personalidades, tem um significado quase sagrado para a tal
sociedade a ponto de provocar emoções fortes.
No caso da atual maioria étnica governadora de Burma,
temos as lembranças históricas de sua expansão, anexação de
diversos territórios, inclusive Rakhine, a perda do seu domínio

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