Direito da Criança e do Adolescente

AutorEduardo Dompierie Roberta Densa
Páginas557-581
1. CONCEITOS BÁSICOS E PRINCÍPIOS1
(Juiz de Direito/SP – 2021 – Vunesp) Entre os direitos fundamentais
nale quais se relacionam mais diretamente à importância
do papel do núcleo familiar na formação e criação dos
lhos menores.
(A) Princípio da responsabilidade parental e da prevalên-
cia da família.
(B) Princípio da prevalência da família e princípio da
obrigatoriedade da informação.
(C) Princípio da obrigatoriedade da informação e princí-
pio da responsabilidade parental.
(D) Princípio do interesse superior da criança e do ado-
lescente e princípio da intervenção mínima.
O ECA erigiu a convivência familiar ao patamar de direito fundamental.
Isso porque considera que crianças e adolescentes, na condição
de pessoas em formação, precisam de valores morais e éticos para
atingir a fase adulta com uma formação sólida, com a personali-
dade bem estruturada. Nessa esteira, a Lei Nacional de Adoção (Lei
12.010/2009) estabelece que se deve buscar, em primeiro lugar e
com absoluta prioridade, a manutenção da criança ou do adolescente
na sua família natural. Diante da imperiosa necessidade de se retirar a
pessoa em desenvolvimento de sua família natural, será encaminhada
para sua família extensa; não sendo isso possível, para programa de
acolhimento familiar ou institucional, ou, ainda, para as modalidades
de família substituta (guarda ou tutela). Se, neste ínterim, a família
natural não se reestruturar, aí sim, a criança ou adolescente poderá ser
encaminhado para adoção – art. 19, caput e § 3º do ECA, cuja redação
foi alterada pela Lei 13.257/2016. A adoção, portanto, deve ser vista,
no atual contexto, como o último recurso, a última alternativa. Nisso
consiste o princípio da prevalência da família, que traduz, como acima já
ponderado, a importância da família na formação das crianças e adoles-
centes. O princípio da responsabilidade parental, por sua vez, refere-se
aos poderes/deveres atribuídos aos pais em relação aos lhos, tendo
como propósito proporcionar a estes bem-estar material e moral. ED
Gabarito “A”
2. DIREITOS FUNDAMENTAIS
2.1. Direito à vida e à saúde
(Juiz de Direito – TJ/MS – 2020 – FCC) O acompanhamento domi-
ciliar é previsto expressamente no Estatuto da Criança e
do Adolescente
(A) para o atendimento das crianças na faixa etária da
primeira infância com suspeita ou conrmação de
violência de qualquer natureza, se necessário.
(B) nas hipóteses de desistência dos genitores da entrega
de criança após o nascimento, pelo prazo de 180 dias.
* ED questões comentadas por: Eduardo Dompieri
RD questões comentadas por: Roberta Densa
(C) para crianças e adolescentes reintegrados à sua família
natural ou extensa após a permanência em serviços
de acolhimento institucional.
(D) às gestantes que apresentem gravidez de alto risco à
saúde e ao desenvolvimento do nascituro.
(E) às crianças detectadas com sinais de risco para o
desenvolvimento biopsicossocial por meios dos pro-
tocolos padronizados de avaliação.
A: Correta. Conforme previsto no art. 13, § 2º, do Estatuto da Criança e
do Adolescente, o acompanhamento domiciliar deverá ser concedido,
se necessário, àquelas crianças da primeira infância com suspeita ou
conrmação de violência de qualquer natureza, nos seguintes termos:
“Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entrada, os serviços
de assistência social em seu componente especializado, o Centro de
Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e os demais
órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
deverão conferir máxima prioridade ao atendimento das crianças na
faixa etária da primeira infância com suspeita ou conrmação de vio-
lência de qualquer natureza, formulando projeto terapêutico singular
que inclua intervenção em rede e, se necessário, acompanhamento
domiciliar”. B: incorreta. Conforme o art. 19-A, § 8º, “Na hipótese de
desistência pelos genitores – manifestada em audiência ou perante a
equipe interprossional – da entrega da criança após o nascimento,
a criança será mantida com os genitores, e será determinado pela
Justiça da Infância e da Juventude o acompanhamento familiar pelo
prazo de 180 (cento e oitenta) dias” (grifo nosso). C: incorreta. Não há
previsão de acompanhamento domiciliar ou familiar nessa hipótese.
D: incorreta. Os direitos da gestante estão especicados no art. 8º do
ECA, sem qualquer menção ao atendimento domiciliar. E: incorreta.
Conforme art. 11, § 3º, do ECA, “os prossionais que atuam no cui-
dado diário ou frequente de crianças na primeira infância receberão
formação especíca e permanente para a detecção de sinais de risco
para o desenvolvimento psíquico, bem como para o acompanhamento
que se zer necessário”. RD
Gabarito “A”
(Juiz de Direito – TJ/RJ – 2019 – VUNESP) Quanto ao direito à saúde
e à vida da criança e do adolescente, à luz dos artigos
é correto armar que
(A) a assistência odontológica, com o to de garantir a
saúde bucal de crianças e adolescentes, representa
medida de respeito à integridade física da pessoa em
desenvolvimento, e, por isso, não se aplica à gestante,
que será inserida em programa especíco voltado à
saúde da mulher.
(B) o descumprimento das obrigações impostas pelo
congura ilícito de natureza administrativa, nos termos
do artigo 228 do mesmo diploma legal.
(C) as gestantes ou mães que manifestem interesse em
entregar seus lhos à adoção serão obrigatoriamente
encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude.
(D) a obrigação de manter registro das atividades desen-
volvidas, através de prontuários individuais, terá seu
14. direito da Criança e do adolesCente
Eduardo Dompierie Roberta Densa*
EDUARDO DOMPIERIE ROBERTA DENSA
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prazo de dezoito anos reduzido ou dispensado, se
as entidades hospitalares fornecerem declaração de
nascimento vivo, em que constem necessariamente
as intercorrências do parto e do desenvolvimento do
neonato.
(E) o fornecimento gratuito de medicamentos, próteses
e outros recursos necessários ao tratamento, habi-
litação ou reabilitação de crianças e adolescentes
constitui obrigação do Poder Público e a reserva do
possível afasta interferência judicial no desempenho
de políticas públicas na área da saúde, em caso de
descumprimento.
A: incorreta. A saúde integral da gestante está expressa no art. 8º do
ECA, nos seguintes termos: “É assegurado a todas as mulheres o acesso
aos programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento
reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à
gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e
pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde”. B: incorreta.
Na hipótese de descumprimento das obrigações dispostas no art. 10
do ECA, é cabível a aplicação das sanções penais previstas nos artigos
228 e 229 do mesmo diploma legal. C: correta. Na forma do art. 19-A
do ECA, não há obrigatoriedade do encaminhamento: “A gestante ou
mãe que manifeste interesse em entregar seu lho para adoção, antes
ou logo após o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e
da Juventude”. D: incorreta. A obrigação estabelecida no art. 10, I, é de
manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários
individuais, pelo prazo de dezoito anos. Por outro lado, já é obrigação
da casa de saúde o fornecimento da declaração de nascido vivo, com
todas as intercorrências do parto (art. 10, IV, do ECA). E: incorreta. O
direito ao cuidado integral à saúde da criança e do adolescente não pode
ser afastado com o argumento da reserva do possível. Entende o STF: “a
questão da reserva do possível: reconhecimento de sua inaplicabilidade,
sempre que a invocação dessa cláusula puder comprometer o núcleo
básico que qualica o mínimo existencial (rtj 200/191-197)”. Vide ARE
745745 AgR. Rel. Min. Celso de Mello. RD
Gabarito “C”
(Juiz – TJ-SC – FCC – 2017) Segundo a Portaria nº 1.082/2014,
do Ministério da Saúde, a qual dispõe sobre as diretrizes
da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Ado-
lescentes em Conito com a Lei, é correto armar que:
(A) os projetos terapêuticos singulares elaborados pela
área de saúde devem se articular com os planos indi-
viduais de atendimento previstos no SINASE – Sistema
Nacional Socioeducativo.
(B) deverá haver a priorização das ações de promoção
da saúde, vedando-se aos adolescentes, entretanto,
a política da redução de danos provocados pelo
consumo de álcool e outras drogas.
(C) propõe a assunção do atendimento da saúde dos
adolescentes privados de liberdade por equipes da
unidade socioeducativa, partindo para a intersetoria-
lização de serviços assim que alcançada a liberdade.
(D) a implementação da atenção integral à saúde dos
adolescentes privados de liberdade ocorrerá com a
participação do Estado e da União, excluída a respon-
sabilidade dos municípios por não lhes caber a manu-
tenção de programas de internação e semiliberdade.
(E) o cuidado de saúde bucal será viabilizado na Atenção
Especializada da Rede de Atenção à Saúde.
A: correta (art. 7º, III, da Portaria 1.082/2014, do Ministério da Saúde);
B: incorreta (art. 7º, VI, da Portaria 1.082/2014, do Ministério da
Saúde); C: incorreta (art. 7º, II, da Portaria 1.082/2014, do Ministério
da Saúde); D: incorreta (art. 14 da Portaria 1.082/2014, do Ministério da
Saúde); E: incorreta (art. 10, I, e, da Portaria 1.082/2014, do Ministério
da Saúde). ED
Gabarito “A”
(Juiz de Direito – TJM/SP – VUNESP – 2016) Nos termos preconi-
zados pela Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, a criança
e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à
dignidade como pessoas humanas em processo de desen-
volvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos
e sociais garantidos na Constituição e nas leis. E, ainda,
estabelece que o direito ao respeito consiste
(A) em buscar refúgio, auxílio e orientação, bem como
crença e culto religioso.
(B) na inviolabilidade da integridade física, psíquica e
moral da criança e do adolescente.
(C) na participação da vida política, na forma da lei,
como também da vida familiar e comunitária, sem
discriminação.
(D) em ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
comunitários, ressalvadas as restrições legais.
(E) em ser criado e educado no seio de sua família e,
excepcionalmente, em família substituta.
A: incorreta. O direito à liberdade compreende a busca de refúgio, auxílio
e orientação (art. 16, VII, do ECA). B: correta. O direito ao respeito
consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da
criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços
e objetos pessoais (art. 17 do ECA). C: incorreta. O direito à liberdade
compreende a participação na vida política, na forma da lei, familiar e
comunitária, sem discriminação (art. 16, V e VI, do ECA). D: incorreta.
O direito à liberdade compreende ir, vir e estar nos logradouros públicos
e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais (art. 16, I do
ECA). E: incorreta. O direito a ser criado e educado no seio de sua
família e, excepcionalmente, em família substituta compreende o direito
fundamental de convivência familiar e comunitária (art. 19 do ECA). RD
Gabarito “B”
2.2. Direito à convivência familiar e
comunitária
(Juiz de Direito/AP – 2022 – FGV) Jennifer dá à luz uma criança do
sexo masculino e, após o parto, ela e o seu companheiro
informam à assistente social do Hospital das Clínicas que
desejam entregar a criança em adoção. Gisele, enfer-
meira, se oferece para adotar a criança e a leva para a sua
casa, com a anuência de Jennifer, do genitor e da família
extensa. O caso é noticiado pelo hospital ao Conselho
Tutelar e ao Ministério Público, que propõe ação com
pedido cautelar de busca e apreensão da criança. O
magistrado indefere o pedido, entendendo que é cabível
a adoção consensual nessa hipótese.
Considerando o disposto na Lei nº 8.069/1990 (ECA), a
decisão está:
(A) correta, pois a entrega da criança a Gisele conta com
a anuência dos pais e da família extensa, havendo
previsão legal no ECA para a realização da adoção
consensual nessa hipótese;
(B) incorreta, pois a criança não se encontra disponível
para adoção, sendo necessária a propositura de ação
de destituição familiar em face dos pais;
(C) correta, pois o consentimento dos pais afasta a neces-
sidade de consulta de habilitados no Sistema Nacional
de Adoção e Acolhimento (SNA);

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