Cooperativismo financeiro: entre virtudes, desafios e oportunidades

AutorÊnio Meinen
Ocupação do AutorAdvogado
Páginas109-134
COOPERATIVISMO FINANCEIRO:
ENTRE VIRTUDES, DESAFIOS E OPORTUNIDADES
ÊNIO MEINEN
Advogado, pós-graduado em direito da empresa e da economia pela
Fundação Getúlio Vargas, advocacia empresarial em ambiente globali-
zado pela Unisinos/RS e gestão estratégica de pessoas pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul; professor convidado de várias universi-
dades do país para cursos de pós-graduação; autor/coautor de artigos
e livros sobre cooperativismo nanceiro – área na qual milita há 35
anos –, entre eles a obra “Cooperativismo nanceiro: virtudes e oportu-
nidades. Ensaios sobre a perenidade do empreendimento cooperativo”,
trabalho mais recente, também versionado no idioma inglês sob o título
Financial cooperativism: virtues and opportunities. Essays on the endu-
rance of cooperative entreprise (obras editadas pela Confebras, em 2016
e 2018, respectivamente). Foi vice-presidente de políticas corporativas
do Sicredi e juiz do Tribunal Administrativo de Recursos Fiscais do RS
(TARF). Atualmente é diretor de operações do Banco Cooperativo do
Brasil (Bancoob).
RESUMO
O cooperativismo nanceiro tem forte presença nos cinco continentes
e no sistema bancário internacional, sendo representado com seis posi-
ções entre as cinquenta maiores instituições nanceiras globais. Mas é
no Brasil que mais se desenvolveu ultimamente, com o impulso da livre
admissão e plenitude de portfólio comercial – tanto para pessoas físicas
como para o pequeno negócio –, apresentando expansão média de ex-
pressivos 20% ao ano.
Ainda que no consolidado nacional a presença não tenha alcançado a
proporção e os impactos que o movimento assume nos mercados mais
tradicionais (Europa e América do Norte, sobretudo), regional e local-
mente já existem casos de acentuado protagonismo e inuência relevan-
te do segmento cooperativo.
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Dados de setembro de 2018 (Censo de cooperados do Banco Central do
Brasil) indicam que na região sul do Brasil 16% da população busca nas
cooperativas o fornecimento dos produtos e serviços nanceiros, sendo
24% no estado de Santa Catarina e 17% no Rio Grande do Sul.
Segundo levantamento do Fundo Garantidor do Cooperativismo de
Crédito (FGCoop – set/2018), as cooperativas detêm a liderança na
concessão de crédito em oito estados, distribuídos entre as cinco regiões
do país. Em Rondônia (norte do país), por exemplo, são responsáveis
por mais de 45% dos empréstimos sem consignação para pessoas fí-
sicas e por 60% das operações com recebíveis para pessoas jurídicas,
participações essas que no Mato Grosso (região centro-oeste) são de
35% e 40%, respectivamente. No crédito rural, as cooperativas atendem
a mais de 20% da demanda dos produtores pessoas físicas no Paraná e
no Rio Grande do Sul. Por m, resultado da percepção de conança dos
investidores, merece destaque a atuação das cooperativas na gestão de
depósitos, que em Santa Catarina e no Mato Grosso alcança cerca de
25% do volume total.
A sua singularidade societária, notadamente pela dupla condição de
cliente-dono de seus usuários, e sua proposta operacional, que não con-
templa o lucro, sem dúvida são elementos-chave nessa acelerada pro-
gressão. Some-se a isso o fato da, hoje, relação pouca amistosa entre
bancos e clientes (vide resultado de estudo global da Deloitte, divul-
gado na revista Exame/SP, jan/2018, pp. 18 e 19), cujo quadro facilita
a presença de soluções alternativas, mais econômicas e empáticas na
perspectiva dos consumidores. Adicionalmente, o engajamento comu-
nitário, sob a égide do sétimo princípio universal do movimento, faz
das cooperativas uma opção cada vez mais recorrente – e desejada – na
prestação de serviços nanceiros.
Mas a obra está ainda inconclusa, ou melhor, recém-iniciada, reque-
rendo propagação vertical homogênea, de modo a reproduzir-se em
todo o país o projeto virtuoso já consagrado em algumas comunidades
e regiões.
A ampliação da escala, tanto associativa quanto operacional, e a otimi-
zação/racionalização de estruturas são condições indispensáveis para a
presença mais signicativa do cooperativismo nanceiro no país. Para
isso, são necessários investimentos em tecnologia, inovação, capacita-
ção e atração de novos talentos, comunicação, estratégias comerciais,
entre outras áreas, além de maior efetividade nas ações de intercoope-
ração, tanto entre ramos diferentes (oportunidade operacional) quanto
intrarramos (oportunidade de redução de custos).
A notícia boa para a sociedade – indivíduos e empreendedores – é que
um ativismo maior e mais uniforme por aqui depende das próprias
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