Apresentação

AutorGuilherme de Oliveira
APRESENTAÇÃO
I. OS ASTRONAUTAS QUE ESTUDAM NA ESTAÇÃO ESPACIAL INTERNACIONAL
E OS BILIONÁRIOS QUE DÃO OS SEUS PASSEIOS TURÍSTICOS E
SIMBÓLICOS NO ESPAÇO SIDERAL TÊM CONDIÇÕES MELHORES DO QUE
NÓS PARA FORMAR UMA IDEIA CLARA SOBRE A SOLIDARIEDADE. É UMA
AFIRMAÇÃO ESTRANHA?
Já se sabe que, quando nos afastamos da nossa terra de residência e a olhamos de
longe, conseguimos perceber melhor os seus méritos e talvez até lamentemos tudo o
que ainda não f‌izemos por ela. Temos saudades das árvores que conhecemos desde a
infância, dos bairros pacatos onde as crianças brincam e lamentamos a negligência
com que a sujamos e praticamos outros maus-tratos que desfeiam as suas paredes
ou os equipamentos lúdicos sociais.
Ora, quem vê o planeta Terra à distância, vê a nave-Terra que transporta toda
a humanidade. Julgo que, estando tão longe, desvanecem-se as diferenças que se-
param as pessoas, as carências que distinguem as regiões ricas e as desfavorecidas,
f‌icam indistintas as belezas naturais de uns lugares e a fealdade de outros; isto é,
não se descortinam, por exemplo, as desigualdades, as injustiças que separam
os cidadãos, a pobreza e as dif‌iculdades das famílias. O que eu imagino que se
veja, lá de longe, são as características fundamentais do planeta-nave, que é um
globo único, viajando numa órbita determinada, cumprindo os rigores do tempo,
sujeitando todos os seres vivos às determinantes climáticas. Sem escolha. Lá de
tão longe, percebem-se apenas as condicionantes básicas que unem, em vez das
diferenças que desunem.
Creio que este ponto de vista faz sobressair – por outras palavras – que estamos
condenados a viver todos em um mundo só, sem alternativas num horizonte temporal
razoável. Isto quer dizer que somos todos parte integrante do planeta-nave espacial
– os três reinos da natureza, animal, vegetal e mineral, como se dizia antigamente.
Cada ser é um átomo deste objeto voador e, portanto, sofre ou benef‌icia dos males e
dos bens que inf‌luenciam a esfera azul. Ninguém pode pôr-se à parte, porque não há
para onde ir nesta escala planetária. Isto é o mesmo que dizer que ninguém escapa
às suas responsabilidades para o bem e para o mal. As boas contribuições e os gestos
perniciosos de todos f‌icarão inevitavelmente gravados nos anéis do tempo, como no
tronco cortado de uma árvore antiga.
Por outro lado, já foi ultrapassada a ideia de “vulnerabilidade” que assentava
na existência de “grupos vulneráveis” que se podem identif‌icar e classif‌icar. Hoje,
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