Envolvência solidária e a (sobre)vivência ao trauma

AutorJoão Pedro M. Gaspar, José António S. Coelho e Carlos Jesus Gil
Páginas307-323
ENVOLVÊNCIA SOLIDÁRIA E A
(SOBRE)VIVÊNCIA AO TRAUMA
João Pedro M. Gaspar
Pela Universidade de Coimbra, é Licenciado em Geologia, Mestre em Geociências,
Doutor em Psicologia da Educação, com Pós-doutoramento em Educação Social;
Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de
Coimbra (CEIS20), do Centro de Investigação em Educação de Adultos e Intervenção
Comunitária (CEAD), do Instituto de Psicologia Cognitiva IPCDHS) e do Laboratório
Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da PUC, Rio de Janeiro (LIPIS); Do-
cente convidado em diversas Instituições de Ensino superior; Mentor e coordenador
da PAJE – Plataforma de Apoio a Jovens (Ex)acolhidos; Supervisor e Consultor em
várias Instituições na área da Infância e Família; Coordenador de projetos nacionais
e internacionais na área da educação e crianças em risco; Conferencista em cerca de
duas centenas de Seminários/Encontros/Congressos (Portugal, Espanha, Suíça, Brasil,
Luxemburgo e Guiné Bissau; Autor e coordenador de livros, artigos e capítulos em
publicações nacionais e internacionais; Membro de diversas Comissões Cientícas e
Editoriais, é revisor em revistas cientícas (Portugal, Brasil e México); Membro do Con-
selho Cientíco da Academia de Líderes UBUNTU; Membro do INTRAC – International
Research Network on Transitions to Adulthood from Care (representante português);
Membro fundador e Presidente do Conselho Consultivo da AjudAjudar – Associação
para a Promoção dos Direitos das Crianças e Jovens; Prémio Best Project no ICCA –
International Conference on Childhood and Adolescence 2017.
José António S. Coelho
Pela Universidade de Aveiro, é Licenciado em Ensino de Biologia e Geologia, Mestre em
Toxicologia e Ecotoxicologia ; Professor do Quadro de Zona Pedagógica de Nomeação
Denitiva ; Atualmente exerce funções docentes no Instituto de Apoio à Criança ; Participa
no 3º Eixo de intervenção da Plataforma PAJE, no âmbito da investigação e publicação na
temática das crianças e jovens em risco ; Autor de comunicações nacionais e internacionais.
Carlos Jesus Gil
Geógrafo, formado na Universidade de Coimbra, professor em diferentes regiões do
país; Investigador/colaborador no Instituto de Psicologia Cognitiva e Desenvolvimento
Humano e Social, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade
de Coimbra, unidade I&D da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Autor de capí-
tulos e artigos em Portugal e no Brasil; Estudos em Formação Musical (Conservatório
de Música Calouste Gulbenkian), baixista em diversas bandas musicais; Voluntário
e primeiro secretário da Mesa da Assembleia da Plataforma PAJE, apoio a jovens ex-
-acolhidos; Sócio fundador do Centro Cultural e Recreativo da Praia de Mira; Escrita,
não como hobby ou como algo paralelo à atividade principal, mas porque tem de ser.
“Ser criança, não signica ter infância”
João Pedro Gaspar.
Sumário: 1. Introdução – 2. Não somos amados por sermos bons. Somos bons porque somos amados
(desmond tutu) – 3. O que se passa na infância, não ca na infância (João Pedro Gaspar) – 4. Eu sou
porque tu és. Eu só posso ser uma pessoa com as outras pessoas (signicado de ubuntu – tradução
literal).
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JOÃO PEDRO M. GASPAR, JOSÉ ANTÓNIO S. COELHO E CARLOS JESUS GIL
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1. INTRODUÇÃO
O que se passa na infância não f‌ica na infância.
São imensos os exemplos que justif‌icam o pensamento implícito nesta frase.
Poucos de nós não se terão já deparado com crianças, jovens e adultos que enfrentam
problemas causados por eventos perniciosos ocorridos na sua infância. Referimo-nos
a acontecimentos traumáticos, difíceis de apagar, causadores de estorvo, impedi-
mento a uma vida individual e socialmente plena. Propomo-nos, com o texto que
apresentamos, indicar caminhos de mitigação ou mesmo de resolução dos problemas
pessoais oriundos de causas traumáticas. Defendemos que a Sociedade dispõe, inata-
mente, porque somos naturalmente gregários, de ferramentas essenciais à remoção
das adversidades sofridas por tantos, mas tantos, as quais, no sofrimento individual
causado, inevitavelmente a maculam.
O trauma representa uma dura realidade em muitos dos humanos, diríamos
mesmo em todos os seres com memória. Sobreviver-lhe é árduo, mas fundamental
para o futuro do indivíduo afetado, bem como para o dos próximos, mesmo da So-
ciedade no seu todo.
Ninguém sobrevive a um trauma sozinho, é necessária e fulcral a ajuda – mui-
tas vezes não procurada, o que leva a situações de desespero e perda de capacidades
fulcrais ao crescimento, desenvolvimento e desempenho do indivíduo. Daí ser o
trauma, a nosso ver, um tema a nunca ser descurado na abrangência das atividades
de Cuidado.
Ajudar uma criança que (sobre)vive ao trauma desencadeia nesta uma sensação
de segurança crescente que lhe permitirá desfazer a encruzilhada relacional ou pelo
menos reaprender a andar na vida relacional, que outrora alguém mutilou. Torna-se
premente recorrer à ajuda e solidariedade de todos, para que possa fazer-se luz ao
fundo do túnel que é a vida destas crianças.
Os maus-tratos contra a criança e o adolescente representam uma das principais
formas de morbidade que atingem a faixa etária dos 5 a 19 anos1, constituindo-se
num dos mais graves problemas de saúde pública2.
Trauma de Desenvolvimento é uma expressão usada para descrever o impacto
de traumas precoces, “repetidos” e perda, que acontecem dentro das relações im-
portantes da criança, e geralmente muito cedo. Relatos comuns incluem – um bebê
ou criança abandonada pelos pais biológicos; bebé ou criança retirado/abandonado
dos pais biológicos por estes terem cometido abuso físico/sexual/emocional; bebé
ou criança que tenha sido negligenciado; criança que alterna uma vivência entre
pais biológicos negligentes e amigos/família atenciosos, durante um longo período
1. JUNQUEIRA, Maria de Fátima P. S.; DESLANDES, Suely F. Resiliência e maus-tratos à criança. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n.1, p. 227-235, jan./fev. 2003.
2. CAVALCANTI, Alessandro L. Maus-tratos infantis: guia de orientação para prof‌issionais de saúde. João
Pessoa: Ideia, 2001b.
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