Cunha, Euclides da

AutorAirton Cerqueira-Leite Seelaender, Arno Wehling
Páginas67-72
67
CUNHA, EUCLIDES DA
Ensaísta, literato, “escritor por acidente”, como diz em seu
discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, Euclides da Cunha
teve uma formação predominantemente científica, primeiro na Escola
Politécnica, depois na escola do exército. Deixou cedo a carreira militar,
passando a exercer a engenharia, para depois fixar-se no jornalismo, tendo
também atuado em comissões governamentais no norte do país. Sua
formação era cientificista, como a maioria de sua geração, oscilando entre
o positivismo já declinante e o evolucionismo. Quando aplicado à história,
seu cientificismo revestia-se de historicismo, apontando “povos sem
história” que, no Brasil, identificou na Amazônia. O ingresso desses povos
na história era também a marcha para a civilização, que via como uma
imposição de sobrevivência (“Estamos condenados à civilização. Ou
progredimos ou desaparecemos”, diz em Os Sertões).
Parcialmente dispersa na imprensa, sua obra tornou-se um dos
paradigmas sobre a formação brasileira, destacando-se os livros: Os
sertões, Contrastes e confrontos, Peru versus Bolívia e À margem da
história (esta, publicação póstuma reunindo vários trabalhos). As
referências mais extensas ao processo de independência encontram-se em
“Da independência à República”, artigo publicado na Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro em 1906 e incluído em À margem da
história.
Para compreender a visão que Euclides da Cunha tinha sobre a
Independência e as instituições brasileiras, deve-se observar duas
premissas por ele estabelecidas: a primeira, de que o Brasil estava no início
do século XIX “territorialmente pronto”, mas sem unidade étnica, restando
o desafio de alcançar a civilização “sem a base orgânica da unidade da raça.”
Era o tributo pago às teses racialistas e racistas em voga, que o faziam
encontrar subgrupos raciais na diversidade da formação brasileira e
questionar o significado da mestiçagem. A segunda premissa, a de que
apesar das limitações que via no meio, na raça e no momento histórico– a
tipologia positivista de Taine que, no livro sobre Canudos, aparece como a
terra, o homem e a luta– já era possível no início do século XIX encontrar

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