Torres, Alberto

AutorAirton Cerqueira-Leite Seelaender, Arno Wehling
Páginas307-316
307
TORRES, ALBERTO
Filho de um magistrado e político da Província do Rio de Janeiro,
Alberto de Seixas Martins Torres foi um dos mais criativos e influentes
críticos da ordem oligárquica da Primeira República. Longe estava, porém,
de ser um “outsider” do regime. Contribuíra para seu surgimento como
ativo militante antimonarquista, já nos tempos em que estudava Direito em
São Paulo e em Recife. Nos instáveis anos iniciais da República, sua
inquestionável lealdade a ela, os laços familiares e o apoio de figuras de
peso como Quintino Bocaiúva cedo lhe abriram as portas para as mais altas
posições: tendo ingressado ainda jovem nos legislativos estadual e federal,
tornou-se, com 31 anos incompletos, Ministro da Justiça e dos Negócios
Interiores, sob Prudente de Moraes (1896). Pouco depois, chegou mesmo
a governar o Estado do Rio de Janeiro (31/12/1897-31/12/1900), vindo a
exercer o cargo de Ministro do STF (1901-1909).
A ida para o Supremo, no contexto da época, podia também
sinalizar perda de espaço nas disputas partidárias por ministérios e
governos estaduais. A ambição de Torres de moldar o destino do país teve,
assim, de buscar outros canais: já perceptível nos seus julgados, revelar-se-
ia ainda mais claramente por meio de novas matérias na imprensa.
No curto intervalo entre a aposentadoria e a morte precoces (1909-
1917), publicaram-se as obras que– como O Problema Nacional Brasileiro
(1914)– posteriormente lhe dariam mais fama. Não raro julgadas, de modo
ingênuo, como se fossem tratados sistemáticos, estas tendiam a resultar, no
todo ou em boa parte, da costura e revisão de escritos menores, como
artigos de jornal e trechos de discursos– fato indicado pelo próprio autor e
relembrado por Barbosa Lima Sobrinho.
Sua vida no interior fluminense em períodos de crise do café e
transição das formas de trabalho, assim como sua experiência na gestão
financeira estatal e seu conhecimento “por dentro” das oligarquias
reforçaram suas inclinações pragmáticas, fornecendo-lhe vasto material
para reflexão. Preconceituosamente pintado, em décadas recentes, como
nefelibata e bacharelesco, parecia representar, na primeira metade do
século XX, exatamente o oposto: a figura do pensador brasileiro mais

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