O Paradoxo entre a Formação do Estudante do Curso de Medicina e a Vida Real dos Protagonistas da Saúde

AutorDarleth Lousan do Nascimento Paixão e Nilton Rodrigues da Paixão Júnior
Páginas515-533
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O PARADOXO ENTRE A FORMAÇÃO DO ESTUDANTE DO
CURSO DE MEDICINA E A VIDA REAL DOS
PROTAGONISTAS DA SAÚDE
Darleth Lousan do Nascimento Paixão
Nilton Rodrigues da Paixão Júnior
Resumo
As regulamentações do curso e profissão da Medicina que devem
proteger os médicos em formação, imprescindíveis numa sociedade, na vida real
acabam por deixá-los reféns de um ensino e profissão que os explora, mantendo-
os numa competição insana, performance rigorosa e dedicação exclusiva. A
problemática do artigo é a de perquirir se há um paradoxo entre a formação dos
médicos e a vida real deles em face da própria saúde precarizada em decorrência
da jornada excessiva dos estudos e da residência médica.
Palavras-chave: bioética, medicina, residência médica, tempo, dignidade.
THE PARADOX BETWEEN THE STUDENT OF MEDICINE COURSE
AND THE REAL LIFE OF THESE HEALTH PROTAGONISTS
Abstract
The regulations of the course and profession of Medicine, which must
protect physicians in training, indispensable in a society, in real life, end up
holding them hostage to a teaching and profession that exploits them, keeps them
in an insane competition, rigorous performance and exclusive dedication. The
article's problem is to investigate whether there is a paradox between the training
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of physicians and their real lives in the face of their own precarious health as a
result of excessive study and medical residency.
Keywords: bioethics, medicine, medical residency, time, dignity.
INTRODUÇÃO
A proposta deste artigo é investigar se há um paradoxo entre a expectativa
de se formar um médico capaz, ágil para salvar vidas e propagar saúde numa
sociedade permeada de doenças, e a própria condição humana precária desse
profissional que cumpre rigorosamente o Código de Ética Médica e diplomas
legais. A importância da bioética, fundada em juízo de valores éticos, surge para
dar proteção não só ao objeto/sujeito de estudo dos cientistas/médicos, mas
também aos próprios cientistas/médicos, não enquanto objetos, mas em seu ser,
numa visão mais ontológico existencial.
Lamentavelmente os profissionais médicos, que se empenham na saúde
e curas dos outros, estão distantes da possibilidade de ter a própria vida
classificada como saudável. Eles estão confinados em salas com iluminação
artificial e debruçados sobre livros, desde o primeiro semestre universitário até a
realização profissional propriamente dita. Horas e horas, meses seguidos, anos
talvez 6, 8 ou mais de dedicação exclusiva ao objeto de estudos, cada vez mais
abrangente, e ao paciente.
O respeito à dignidade da pessoa humana deve ser válido tanto para o
médico quanto para o paciente, por ser uma questão de justiça. Ambos são
sujeitos de direito, ambos têm direito à qualidade de vida.
O tempo não cessa, a vida transcorre e escoa por entre os dedos desses
profissionais que se esquecem da própria condição de humanos para se tornarem
máquinas infalíveis de trabalho. É impossível resgatar a vivacidade da
adolescência na idade adulta. Como uma flecha lançada ao vento, o tempo é
irreversível, inexorável. O tempo no ritmo circadiano marca implacavelmente os
corpos com o envelhecimento de células, mesmo a contragosto de todos,
precarizando todas as funções orgânicas.

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