Pandemia, reabertura das escolas e autoridade parental

AutorAna Carolina Brochado Teixeira e Mariana Dias Duarte Borchio
Páginas335-350
PANDEMIA, REABERTURA DAS ESCOLAS E
AUTORIDADE PARENTAL
Ana Carolina Brochado Teixeira
Doutora em Direito Civil pela UERJ. Mestre em Direito Privado pela PUC Minas. Pro-
fessora do Centro Universitário UNA. Coordenadora editorial da Revista Brasileira de
Direito Civil – RBDCivil. Advogada.
Mariana Dias Duarte Borchio
Especialização em Educação pela PUCRS (em curso). Formação em Psicanálise pelo
Instituto de Psicanálise e Saúde Mental. Graduada em Psicologia, Artes Plásticas e
Pedagogia. Atua como Psicóloga Clínica há 15 anos com 10 anos de experiência em
Psicologia Hospitalar. Professora do Ensino Básico em BH.
Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos.
Paulo Freire
Sumário: 1. Introdução – 2. Educação como direito de crianças e adolescentes: a importância
da escola – 3. Crianças e adolescentes como prioridade absoluta – 4. Autoridade parental e o
retorno às aulas presenciais – 5. Conclusão. Referências bibliográcas
1. INTRODUÇÃO
A pandemia causada pela COVID-19 gerou uma reação imediata de suspensão das
aulas presenciais para todas as idades, pois o vírus se espalha rápido e a sala de aula,
geralmente um ambiente fechado, facilita sua propagação. Como tentativa para remediar
a situação, foram propostas atividades remotas para alunos, para que tivessem acesso
ao conteúdo previsto para o momento escolar. No entanto, embora a intenção tenha
sido positiva frente ao desaf‌io da pandemia, essa modalidade de ensino só agravou,
ainda mais, o abismo das diferenças sociais, o acesso à educação e outros problemas.
O dilema da reabertura das escolas foi tratado de forma diferente pelos governos
das mais diversas partes do mundo. Muitos países entenderam que, na f‌lexibilização
do conf‌inamento social, a abertura de escolas – principalmente para crianças peque-
nas – deveria ter prioridade, com tentativas de se implementar atividades lúdicas, fora
do ambiente fechado, em uma retomada gradativa até que crianças e adolescentes
pudessem voltar para a sala de aula.1
1. PALHARES, Isabela. Maioria dos países reabriu escolas, mas ainda buscam estratégias para não voltar a
fechá-las. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/02/maioria-dos-paises-reabriu-
-escolas-mas-ainda-buscam-estrategias-para-nao-voltar-a-fecha-las.shtml. Acesso em: 1º fev. 2021.
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ANA CAROLINA BROCHADO TEIXEIRA E MARIANA DIAS DUARTE BORCHIO
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A reabertura das escolas para acolhimento das crianças e adolescentes também
tem recebido um trato nada uniforme pelos estados brasileiros, levados não apenas
pelo grau de gravidade da pandemia, mas pelos setores que elencam mais relevantes
ou menos propícios a contágios, ao disciplinar a abertura: escola versus comércio,
bares, restaurantes, shoppings etc...
Além da pandemia, o Brasil tem sofrido um desaf‌io extra, que tem inf‌luenciado
sobremaneira na forma do enfrentamento da pandemia: parece haver uma tendência
de fechar os olhos para a ciência, para as descobertas científ‌icas relativas à atuação
do vírus nas pessoas, nas mais diferentes faixas etárias etc. Embora ainda tenha
muito a se avançar sobre o coronavírus, estudos informam que crianças de 1 a 10
anos transmitem menos e podem ter sintomas mais leves (oligossintomáticos).
Por isso, no balanceamento entre riscos e benefícios, pediatras tem recomendado
a reabertura das escolas esteja na pauta de prioridades dos gestores políticos, a f‌im
de que crianças possam ser melhor atendidas. Os estudos especializados sobre o
tema concluem que:
Embora o SARS-CoV-2 infecte pessoas de todas as idades, os dados disponíveis publicados até agora
mostram que as crianças (ou seja, indivíduos com idade ≤ 17 anos) representam apenas 1-8% dos
casos conrmados laboratorialmente de COVID-19e para 2 a 4% dos pacientes internados.Além
disso, as crianças raramente necessitam de internação hospitalar,internação em uma unidade de
terapia intensiva, oxigenoterapia ou ventilação.2(tradução nossa)
Além disso, dados científ‌icos informam que crianças não são fortes vetores de
transmissão:
“(...) as crianças, particularmente crianças em idade escolar, são vetores muito menos importantes
da transmissão SARS-CoV-2 do que os adultos. Portanto, deve-se considerar seriamente estratégias
que permitam que as escolas permaneçam abertas, mesmo durante os períodos de disseminação
do COVID-19. Ao fazê-lo, poderíamos minimizar os custos sociais, de desenvolvimento e de
saúde potencialmente profundos que nossas crianças continuarão a sofrer até que um tratamen-
to ou vacina ecaz possa ser desenvolvido e distribuído ou, caso contrário, até alcançarmos a
imunidade do rebanho”.3
Essas são as premissas científ‌icas por meio das quais esse texto foi pensado:
minimização dos danos que a COVID-19 causam em crianças, além do fato de crian-
ças não serem grandes veiculadoras do vírus e foco de contaminação para a família.
2. LACHASSINNE, Eric; PONTUAL, Loïc de; CASERIS, Marion; LORROT, Mathie; GUILLUY, Carole; NAUD,
Aurélie et al. Transmissão SARS-CoV-2 entre crianças e funcionários em creches durante um bloqueio
nacional da França: um estudo transversal, multicentro, soroprevalência. Disponível em: SARS-CoV-2
transmissionamongchildrenand staff in daycare centres during a nationwidelockdown in France: a cros-
s-sectional, multicentre, seroprevalencestudy – The Lancet Child&Adolescent Health. Acesso em: 10 fev.
2021.
3. LEE, Benjamin; RASKA, William v. Transmissão COVID-19 e Crianças: A Criança não é culpada. Pediatrics
– Off‌icialJournalof American AcademyofPediatric. Disponível em: COVID-19 TransmissionandChildren:
The ChildIsNottoBlame | American AcademyofPediatrics (aappublications.org). Acesso em: 11 fev. 2021.
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