Caso 28. Ré-modelo

AutorAntonio Carlos da Carvalho Pinto
Ocupação do AutorProfessor de Direito Processual Penal. 'Ex' Coordenador de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP.
Páginas281-284

Page 281

Morena, linda, de corpo escultural, verdadeira "modelo", sem prótese, Valdisa era casada, morava nos fundos da casa dos sogros.

Embora a mulher fosse contadora, o casal era "feirante", progrediu e abriu um restaurante dançante, na Vila Maria, sendo certo que a freguesia, curiosamente, abarcava grande número de homens, cuja frequência, não raro, tinha como atrativo sensuais "flertes" com a proprietária.

Em conta de crises de ciúme, o marido, muitas vezes, conduzia a mulher para o "depósito" do comércio, onde a agredia, determinando que fosse para casa.

Numa sexta-feira, no final de expediente, na hora de reabastecer a geladeira, o marido, depois de um ou dois "goles", jogou um engradado de cervejas na mão da mulher, fraturando dois dedos.

Levada ao pronto socorro e atendida, o casal voltou para a residência, sem qualquer comunicação à polícia.

No sábado, mesmo com a mão enfaixada, Valdisa abriu normalmente o restaurante e, quando perguntada sobre o marido, respondia calmamente: "Foi visitar parente".

Page 282

No dia seguinte, a mãe, intrigada pela ausência imotivada do filho e, como a indesejada Nora não tivesse explicação para o desaparecimento do comerciante, a velha comunicou sua estranheza ao pai da vítima, Sr. Manoel, um português "invocado", que havia passado a vida atrás de balcão de padaria.

Insistentemente desatendidos e desinformados quanto ao paradeiro filho, "Romeozinho", desconfiado, o pai chamou a polícia, para a solução do enigma, o sumiço do "portuga", como era apelidado.

Os policiais não tiveram nenhuma dificuldade para encontrar o corpo, debaixo da cama do casal.

Presa e autuada em flagrante delito, pelo homicídio e pela ocultação do cadáver, a autoridade policial submeteu Valdisa à exame de corpo de delito, comprovando-se, pericialmente, os ferimentos na mão da mulher, provocados pelo defunto.

Requeri e obtive liberdade provisória, sob argumentos de que Valdisa, além de primária, não exibia qualquer antecedente criminal, sendo certo que era a única pessoa capacitada para reabrir o restaurante, sob pena de inevitável falência.

Denunciada, processada e pronunciada, o júri foi marcado no Plenário da Vila Mariana e a acusação ficou a cargo do promotor José Emanuel, que depois se casou com a escrivã do Cartório, de nome Maria Lídia, ótima funcionária e querida amiga.

Page 283

Detalhe:

Duas horas antes do júri, cerca de meio dia, Valdisa se apresentou em meu escritório, na Rua Quintino Bocaiuva, "hiper" maquiada...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT