Caso 40. Briga de vizinhas

AutorAntonio Carlos da Carvalho Pinto
Ocupação do AutorProfessor de Direito Processual Penal. 'Ex' Coordenador de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP.
Páginas365-368

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Antonia e Manuela eram vizinhas e se tornaram grandes amigas, a ponto de uma ingressar na casa da outra, sem tocar campainha.

Dona Manuela, portuguesa, de sessenta e quatro anos, era bem casada e "bem de vida".

Antonia, bem mais jovem, estava desquitada de um policial civil e, para sustentar seus dois filhos e suplementar a ínfima "pensão" do "ex" marido, montou uma "creche" em sua própria residência.

A rua onde moravam, do bairro de Tucuruvi, era estreita, arborizada e em pequeno desnível.

Manuela tinha o hábito de varrer a sua calçada diariamente, empurrando o lixo e as folhas para a sarjeta fronteiriça da casa de Antonia.

Sempre que chovia, a varredura dificultava o natural escoamento da água, ensejando a formação de poça que dificultava o ingresso das crianças e das mães, que reclamavam insistentemente e obrigavam Antonia a limpar a sujeira provinda da varrição da amiga, a portuguesa.

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Uma tarde, perto da hora de "entregar" as crianças, constatando nova poça na frente da creche, como sempre acontecia, Antonia foi interpelar a vizinha.

Estando "mal dos bofes", Manoela disse para "não amolar" e que ela, a reclamante, que varresse e se acostumasse, porque "não iria deixar de lavar sua calçada por causa da criançada barulhenta".

De braços cruzados e nariz erguido, Manuela ordenou:

- Vá pegar a vassoura, que eu quero ver se você vai limpar direito.

Antonia adentrou seu portão e, de imediato, ao invés da vassoura, retornou portando uma "bereta" semi-automática que havia ganhado do seu "ex" marido.

Ao ver a amiga armada, Manuela "deu com os ombros", como se não se importasse com a arma, sendo certo que, ao se virar para adentrar sua casa, Antonia encostou a "bereta" nas costas da vizinha quando, sem perceber, a arma disparou o projétil que estava na "agulha", causando a morte da amiga portuguesa.

Consumada a estupidez, Antonia fugiu do local e orientada pelo "ex", policial, me procurou dois dias após.

Antes de apresentá-la à autoridade policial, fui ler o inquérito já instaurado e constatei depoimentos de vizinhas de ambas as envolvidas no episódio, umas, amigas da vítima, maldizendo a indiciada e outras diziam que a portuguesa criava problema com todo mundo.

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Uma vizinha afirmou que a "portuguesa" brigava até mesmo com os feirantes, sendo que nenhuma acreditava que Antonia tivesse a intenção de matar Manuela.

Essa versão declinada pela homicida, desde o primeiro momento, foi reafirmada nos interrogatórios...

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