A negação das escolhas políticas-regulatórias feitas pelo setor elétrico brasileiro e suas consequências

AutorAlexandre Viana e Bruno Crispim
Ocupação do AutorEnergy Trading Director na Pacific Hydro Brasil (SPIC)/Associado da área de Energia do escritório Demarest Advogados
Páginas48-65
48 A NEGAÇÃO DAS ESCOLHAS POLÍTICAS-REGULATÓRIAS FEITAS PELO SETOR ELÉTRICO...
1. INTRODUÇÃO
Sob uma perspectiva histórica o Setor Elétrico Brasileiro SEB pode ser
dividido em três fases principais i domínio estatal no período de 
a  ii abertura do Setor Elétrico à iniciativa privada em meados da
década de  e iii a criação do novo modelo do Setor Elétrico a partir
do início de 
A primeira grande mudança ocorre na década de  em decorrência
dos estudos realizados no âmbito do Projeto RESEB iniciado pelo governo
em  para a implantação de uma reforma que teve como questão central a
mudança de um regime monopolista para um regime baseado na competição
Para a gestão desse modelo foi constituído um órgão responsável pela
regulação e iscalização das atividades setoriais Agência Nacional de Energia
Elétrica  ANEEL uma entidade responsável pela coordenação e operação
ísica do sistema Operador Nacional do Sistema Elétrico  ONS
 e uma
entidade responsável pela viabilização comercial do mercado inicialmente
denominada Mercado Atacadista de Energia Elétrica  MAE
 posteriormente
sucedido pelo Câmara de Comercialização de Energia Elétrica  CCEE
A grave crise de suprimento vivenciada em  fez com que a
estrutura normativa inicialmente prevista fosse revista tendo sido apre
sentada pelo Ministério de Minas e Energia MME a Proposta de Modelo
)nstitucional do Setor Elétrico dando espaço então a segunda grande
reforma iniciada em  e implementada em  com a Lei n 
de  de março de  Esse modelo a despeito de ter sofrido in’meras
alterações vige até o momento
Os dois grandes marcos regulatórios resultaram em um mercado com
dois ambientes de comercialização convivendo em conjunto o Ambiente
)nstituída conforme a Lei n  de  de dezembro de  como autarquia sob
regime especial vinculada ao Ministério de Minas e Energia
)nstituído conforme a Lei n  de  de maio de 
)nstituído conforme a Lei n  de  de maio de 
)nstituído conforme a Lei n  de  de abril de 
Criado conforme a Lei n  o MME é órgão de governo vinculado à Presi
dência da Rep’blica responsável pela formulação e implantação de políticas no setor
energético de acordo com as diretrizes do Conselho Nacional de Política Energética
ALEXANDRE VIANA E BRUNO CRISPIM 49
de Contratação Regulada ACR
e o Ambiente de Contratação Livre ACL
e que adota uma abordagem teórica atacadista, com formação de preço de
mercado de curto prazo realizada por meio de modelos matemáticos.8
Ocorre que a escolha política por essa estrutura regulatórianorma
tiva principal resulta em uma série de desdobramentos relevantes como
alocação de custos alocação de riscos e na forma como se dá a contratação
da expansão do parque gerador nacional A formulação das políticas ica a
cargo do MME A normatização em geral conduzida pela ANEEL e opera
cionalizada pela CCEE advém de forma bastante complexa por meio de
diversos instrumentos regulatórios
Com efeito observase que as escolhas políticas adotadas pelo SEB não
são explicitamente assumidas  porque não dizer negadas  pelas institui
ções setoriais o que leva à construção de diversos instrumentos regulató
rios e normativos complementares criados com vistas a atenuar os efeitos
das escolhas explícitas ou até mesmo para reverter de forma não tão clara
as escolhas iniciais
Assim o objetivo deste artigo é apresentar conceitualmente as impli
cações desta forma de atuação política e regulatória apresentando três
exemplos do atual contexto regulatório em que a negação das escolhas
políticasregulatórias feitas alhures pelo Brasil redundou em um sistema
mais complexo e menos eiciente que piora a alocação entre os agentes de
mercado e torna a sua gestão pelo próprio regulador mais complexa além
de trazer insegurança jurídica
Após identiicarmos os modelos e as escolhas regulatórias feitas em
alguns lugares do mundo serão discutidos três exemplos de escolhas polí
ticas e regulatórias brasileiras que foram de certo modo negadas com regu
O Ambiente de Contratação Regulada ACR é o segmento do mercado no qual se realizam
as operações de compra e venda de energia elétrica entre agentes vendedores e agentes
de distribuição precedidas de licitação na modalidade de leilão ressalvados os casos
previstos em lei conforme regras e procedimentos de comercialização especíicos
O Ambiente de Contratação Livre ACL por sua vez é o segmento do mercado no qual
se realizam as operações de compra e venda de energia elétrica objeto de contratos
bilaterais livremente negociados conforme regras e procedimentos de comercialização
especíicos
A metodologia para a determinação do preço do Mercado de curto prazo é operacio
nalizada por meio dos programas NEWAVE NEWDESP e DECOMP

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT