Os Mecanismos da Morte

AutorJorge Paulete Vanrell
Ocupação do AutorMedicina, Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais e Licenciatura Plena em Pedagogia
Páginas115-130

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Introdução

Como já mencionamos, o mecanismo da morte é a sequência, quer de alterações fisiopatológicas, quer de desequilíbrios bioquímicos, que são desencadeados pela causa da morte (causa mortis médica) e que se tornam incompatíveis com a vida.

Deve-se manter presente, sempre, que há um verdadeiro tripé a sustentar a vida:

VIDA

sistema respiratório

sistema circulatório

sistema neural

E bastaria que qualquer um dos pés desse suporte falhasse, para que a vida periclitasse e fosse impossível de ser mantida, a não ser com a ajuda de procedimentos auxiliares, externos e de duração às vezes extremamente efêmera, quer por causas circulatórias, quer por causas respiratórias, quer por causas neurais.

Do ponto de vista médico-legal, os mecanismos da morte podem manifestar-se de várias formas. Todavia, qualquer que seja a forma aparente, ela sempre poderá ser reduzida a uma das seguintes formas básicas:

• Circulatórios - Choque; Síncope; Assistolia ventricular;

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• Respiratórios - Asfixia; Depressão ou paralisia respiratória;

• Neurais - Traumatismo cranioencefálico; Traumatismo raquimedular.

• Sistêmico - Envenenamento.

Circulatórios
Choque

O choque (shock) é uma síndrome clínica de insuficiência circulatória aguda que se caracteriza pelos sinais decorrentes da redução da perfusão dos tecidos e que se não tratada com urgência leva à morte.

Em 1972, Hinshaw & Cox, sugeriram a classificação que se utiliza até hoje, considerando 4 tipos:

• Choque cardiogênico; • Choque hipovolêmico; • Choque distributivo; e • Choque obstrutivo.

Mais recentemente tem-se incrementado uma 5ª variedade:

• Choque endócrino

a) Choque cardiogênico (assistolia e fibrilação ventricular)

Compreende uma série de situações em que se torna ineficaz a contração sistólica do coração.

Isso tanto pode ocorrer por completa falta de contração cardíaca (assistolia) quanto por deficiência na efetividade da contração, harmônica e sincrônica, das fibras do miocárdio (fibrilação ventricular).

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Esse tipo de choque é causado pela falta de capacidade do coração para bombear o sangue com efetividade. Pode resultar de:

• lesão do músculo cardíaco (e.g., infarto de miocárdio) • arritmias; • cardiomiopatias; • insuficiência cardíaca congestiva; • contusio cordis; ou • problemas das valvas cardíacas.

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Assistolia e fibrilação ventricular. Compreendem uma diversidade de situações em que se torna ineficaz a contração sistólica, unívoca, do coração. Isso tanto pode ocorrer por completa falta de contração cardíaca (assistolia) como por deficiência na ação de contração harmônica e sincrônica das fibras do miocárdio (fibrilação ventricular).

Em ambas as situações, o denominador comum que leva ao óbito é a falha da eficiência circulatória, que pela ausência do bombeio cardíaco acarreta uma má distribuição ou, até, ausência de distribuição do oxigênio para os diferentes tecidos somáticos.

A assistolia e, mais frequentemente, a fibrilação ventricular podem resultar da ação das mais variadas energias. Assim, poderemos encontrar a atuação de:

  1. energias mecânicas, que se exercem sobre o coração, impedindo-o de funcionar normalmente, por exemplo, pela compressão extrínseca, como ocorre nos casos de tamponamento cardíaco;

  2. energias elétricas, como nos acidentes por eletricidade industrial ou doméstica, de baixa e média tensão;

  3. energias químicas, como as que resultam das alterações hidroeletrolíticas, nos afogamentos;

  4. energias psicossomáticas, como as que se observam nos estados de choque emocional intenso, provocados por agentes estressores externos que desenvolvem reações de medo ou pânico, em pessoas que apresentam terrenos predispostos. É o que se vê, por exemplo, nos portadores de coronariopatias – quando o choque emocional provoca insuficiência coronariana aguda, seguida de enfarte de miocárdio e morte – ou nos pacientes de cardiopatia hipertensiva, quando o estressor desencadeia uma crise hipertensiva que ora provoca claudicação aguda do miocárdio, seguida de edema agudo de pulmão, que leva ao óbito, ora produz uma hemorragia cerebral, com exitus letalis ao paciente.

b) Choque hipovolêmico

Este é o tipo de choque mais comum e resulta de um volume circulante insuficiente.

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A causa primária é a perda de líquidos absoluta da circulação, por fatores internos ou externos. A causa interna mais comum é a hemorragia.

As causas externas são representadas

• pelo sangramento abundante; • pelas fístulas de alto débito; e/ou • pelas queimaduras severas e extensas.

Anemia aguda. É um quadro que inclui sempre situações que diminuem de maneira abrupta a volemia, isto é, o volume total de sangue existente no organismo.

Quando tal acontece e os mecanismos de defesa emergenciais (e.g., esplenocontração) são insuficientes para promover a correção da volemia, instaura-se a partir da anemia aguda um quadro de choque hemorrágico irreversível, em que se sucedem a hipotensão arterial, a taquicardia, a vasoconstrição periférica (palidez) e, como resultado final, uma má irrigação tissular que, pela hipóxia celular, leva à morte.

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É o que se vê nas lesões traumáticas – acidentais, suicidas ou homicidas – de vasos calibrosos (artérias ou veias)...

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