O Papel da Antropologia Forense: Uma Introdução

AutorJorge Paulete Vanrell
Ocupação do AutorMedicina, Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais e Licenciatura Plena em Pedagogia
Páginas531-538

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Na nossa cultura ocidental, e este fato é singularmente notório nas ciências biológicas, aprendemos a pensar em forma descontínua: classificamos, organizamos, arquivamos e, assim, observamos a realidade sob essa percepção.

Nosso cérebro nunca vê um filme completo e contínuo, mas apenas “slides” ou diapositivos da realidade.

É dessa forma, própria do pensamento grego, notadamente aristotélico, que se originou toda nossa cosmovisão ocidental, que nasceu toda a nossa ciência, sempre classificando, organizando, arquivando.

Isso ensejou fantásticas controvérsias históricas, particularmente fecundas nos séculos XVIII e XIX, uma vez que o fragmento de realidade que cada um percebia podia ser diferente daquele que um outro captava e, sobretudo, os intervalos que separavam as percepções podiam dar azo à formação de outra imagem da continuidade com a qual pretendiam explicar os fenômenos.

Os estudos da genética clássica souberam reconhecer o complexo caminho da especiação quando ainda era desconhecido o código genético. Em todas as espécies com reprodução sexual e fertilização cruzada, existe um fluxo permanente de mutações, geradas por agentes físicos, químicos e mesmo erros na duplicação do DNA.

A própria recombinação meiótica é a fonte mais importante de reordenamento gênico e variabilidade, uma vez que se produz, de forma impositiva e irretorquível, em pelo menos um ponto ou local para cada um dos cromossomas de cada gameta, isto é, das únicas células de um indivíduo que darão origem a um novo ser (com a exceção, óbvia, da reprodução vegetativa em plantas).

Os mecanismos de reparo do DNA fazem parte dos mecanismos permanentes do balanço entre a organização à que tende o programa informático, que constitui o genoma de uma espécie, e a tendência natural à desorganização, ao aumento de entropia, ao caos. A deterioração progressiva da eficiência desses mecanismos é uma das razões mais conspícuas do envelhecimento.

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A ação permanente, da seleção natural sobre os indivíduos de uma espécie, e um conjunto de razões levam a um balanço relativo das populações, que sói produzir diferenciações que, finalmente, podem levar a um isolamento reprodutivo e à geração de uma nova espécie.

Ao longo desses processos, intervêm razões geográficas, ecológicas, sazonais, etológicas, morfológicas, fisiológicas etc., sempre partindo do princípio de que o:

Fenótipo = genótipo + influências do meio

Destarte, as populações carregadas de polimorfismos dão origem a grupos diferenciáveis que, classicamente, têm se denominado raças, e, potencialmente, a subespécies, segundo o grau de diferenciação – de acordo com diferentes critérios que podem ser adotados – e segundo o progressivo isolamento reprodutivo.

As populações humanas distinguem-se entre si, desde épocas remotas, por uma série de traços – morfológicos, funcionais e/ou psicológicos – que, embora variados, se distribuem com uma tendência central, a média, e frequências menores que se afastam da primeira (Rodriguez, 2001).

Foi assim que nossa espécie – Homo sapiens – se dividiu e subdividiu em subespécies ou raças, sempre com a finalidade de sistematizar os dados de que se dispunha, com o escopo de conseguir facilitar o seu estudo.

Todavia, os limites de todas essas classificações são ambíguos e, frequentemente, alicerçam-se sobre pressupostos inexatos que, como é curial, podem induzir a erros e, o que é pior, as mais das vezes, encontram-se envolvidos em princípios nebulosos e/ou em duvidosas posições morais e econômicas, totalmente afastadas dos mais comezinhos princípios científicos.

Na opinião de Rodríguez (op. cit.):

en la medida de su hipotética realidad, las razas deben ser consideradas a lo sumo como conglomerados de poblaciones que comparten una historia biológica común en virtud de los procesos evolutivos de mutación, selección natural,...

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